A EPOPÉIA AÇÓRICO MADEIRENSE 1748_1756
Em 28 de agosto de
2021, terminei a leitura do meu 12º livro do ano, de Walter Fernando Piazza.
A epopeia Açórico-Madeirense
1747-1758 / Walter F. Piazza, Florianópolis: Ed. da UFSC; Lunardelli, 1992, 490
p.: il.
Ao ler esse livro do Historiador
catarinense Walter F. Piazza, que teve como base as suas inúmeras pesquisas em
arquivos históricos de diversas entidades portuguesas especialmente em Lisboa e
na região dos Açores e Ilha da Madeira, bem como em várias instituições
militares e civis brasileiras e catarinenses.
Podemos ter uma ideia bem detalhada sobre o
que e como foi realmente a epopéia dos casais açorianos e madeirenses, ao se
transferirem para o Brasil e mais especificamente em Desterro (hoje
Florianópolis) e seu entorno na Província de Santa Catarina.
Uma das grandes dificuldades de
ler este livro foi a questão de ter sido feito uma transcrição literal dos documentos
de época com todas as variáveis de grafia que muito posteriormente foram
modificadas e não importava se era o rei ou seus súditos que estivessem
escrevendo o que nós hoje consideraríamos como erros de grafia naquela época era
perfeitamente natural, isso sem contar as abreviações no meio das cartas e
também as repetições de documentos pois as vezes o mesmo documento era encontrado
em lugares e arquivos diferentes. Tudo isso devido a burocracia portuguesa que
informava que os documentos seguiam em vias diferentes.
A partir dos relados de Walter
Piazza podemos ter acesso a toda a burocracia portuguesa e todos os seus graus
de comando e influências inclusive as autoridades religiosas como Bispos e
demais agregados da Igreja Católica que tinha uma certa simbiose com o sistema
de governo português tendo em vista esse ser uma monarquia voltada e devota do
catolicismo.
Conflitos com a Espanha e temor
de perda de parte de suas posses na américa, principalmente na fronteira sul do
Brasil, o governo de Portugal, se vê obrigado a tomar dinheiro emprestado “a
juros’ de cinco por cento ao ano de capitalistas para então efetuar o que foi
uma verdadeira epopéia para a época em questão.
Funcionários das mais diversas
hierarquias governamentais e religiosas eram encarregados de fazerem um censo
dos casais e com idades bem específica que quisessem se transladar para o
Brasil e as ordem eram bem claras e deveriam ser reportadas diretamente a coroa
portuguesa em Lisboa para que fosse organizado todo o engenhoso processo para a
transferência transatlântica.
A burocracia portuguesa era de
tal ordem que os mínimos detalhes eram colocados nos contratos com os “assentistas”
assim chamados os transportadores que iriam realizar o transporte marítimo dos
casais e seus filhos que assim o fossem permitidos serem transportados e
inclusive especificava o quando de comida ou (ração) seria fornecido para cada
pessoa maior, adolescente a partir de três anos até quatorze anos e designando
que não poderia ser dado e cobrado nada os de até três anos pois estes não
estaria sendo custeados pela coroa.
Espaços reservados para mulheres
que não poderiam ser acessados por hipótese alguma por outros homens da
embarcação exceto seus maridos, um número mínimo de padres a bordo para poder
efetuar os ofícios religiosos, quantidade de água a ser distribuída e médico a
bordo tudo isso fazia parte dos compromissos que deveriam ser seguidos, para
que após a chegada ao destino final fosse efetuado o pagamento ao transportador
e até os que morriam no trajeto eram descontados, já que o contrato previa o
pagamento por pessoa transportada.
Na segunda metade do século XVIII
o Arquipélago dos Açores (formado por nove ilhas) e também a Ilha da Madeira,
ambas possessões da coroa portuguesa, passavam por uma explosão demográfica e
também vitimados pelo flagelo da fome devido a uma série de eventos climáticos
e também outros fenômenos naturais decorrentes da origem vulcânica dessas
terras.
Erosão e exaurimento do solo, criaram
a condição perfeita para a crise que assolou a região, e região esta que mesmo
sendo uma grande potência agrícola, se torna insuficiente para alimentar sua
população e ainda pagar os impostos devidos a coroa portuguesa sobre a
produção.
Foi então que por convencimento
de seus conselheiros Ultramarinos o então Rei de Portugal resolve abrir edital
público para transferência de aproximadamente oito mil casais para suas possessões
na américa e principalmente em Desterro ao sul do Brasil na Província de Santa
Catarina.
Na província de Santa Catarina
foi designado o Brigadeiro José da Silva Paes para proporcionar todo o
alojamento e distribuição de terras, ferramentas e animais, bem como a alimentação
mínima a base de farinha, carne e peixe por um período não inferior a um ano,
para que os casais se instalassem da melhor forma. Por mais que isso possa ter
sido pretendido jamais foi cumprido na íntegra conforme o edital real previa.
Imaginemos milhares de pessoas
que levaram meses para cruzar o Atlântico deixando para trás tudo que tinham e
que quando conseguiam vendiam por uma ninharia por acreditar em uma vida melhor
chegar a um local completamente desconhecido e repleto de animais, terem que
desbravar matas para construir suas residências e roças? Quanta dificuldade
devem ter encontrado em Desterro na Ilha de Santa Catarina. Isso tudo ainda
levando em conta que muitos dos seus entes queridos não puderam embarcar por
estarem fora da idade que o régio edital previa.
Nesse período Desterro carecia de
pessoas para completar o povoamento da terra e também para abastecer as
necessidades da região e também os navios que seguiam para o Rio da Prata, e a
vinda desses casais tinha exatamente esse objetivo.
Com a vinda dos casais de
açorianos e madeirenses, para Desterro, comunidades foram criadas ou ampliadas,
igrejas erguidas e também como previa o régio edital companhias de milícias destinadas
a segurança e a ordem das localidades foram montadas por oficiais que já vieram
com essa formação lá de Portugal.
A partir das inúmeras relações de
passageiros dos transportadores e também de documentos do governo local podemos
ter acesso a alguns nomes que posteriormente se tornaram famílias tradicionais
de Florianópolis ou mesmo se não tradicionais por posses ou cargos, mas muito
tradicionais nas vilas onde foram inseridas.
Atividades que tiveram um grande
incremento com a vinda dos açorianos para desterro foram a fabricação de
farinha de mandioca, produto esse que foi usado em substituição ao trigo e
outros cereais plantados nas Ilhas dos Açores, fabricação de cachaça a partir
da cana de açúcar que por sinal se tornou um dos produtos mais comercializados
por Desterro, produção de peixe seco, plantação de frutas e também extração de
lenha para abastecer os navios que seguiam para o sul, isso tudo fazia parte da
economia local nesse período.
Conforme comento em cada pequeno
resumo, que faço dos livros que leio para socializar o seu conteúdo, este
espaço se torna pequeno ou inadequado para publicação de detalhes mais
aprofundados dos livros, então temos a referência completa logo no início e
sugiro aos que tenham interesse no assunto que façam suas pesquisas
complementares de acordo com os seus objetivos.
Grande abraço à todos.
Paulo Coelho –
Administrador/Bacharel e Licenciado em História.
Florianópolis – SC 12/10 /2021.
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