12 de outubro de 2021

 







A EPOPÉIA AÇÓRICO MADEIRENSE 1748_1756

Em 28 de agosto de 2021, terminei a leitura do meu 12º livro do ano, de Walter Fernando Piazza.

A epopeia Açórico-Madeirense 1747-1758 / Walter F. Piazza, Florianópolis: Ed. da UFSC; Lunardelli, 1992, 490 p.: il.

 

Ao ler esse livro do Historiador catarinense Walter F. Piazza, que teve como base as suas inúmeras pesquisas em arquivos históricos de diversas entidades portuguesas especialmente em Lisboa e na região dos Açores e Ilha da Madeira, bem como em várias instituições militares e civis brasileiras e catarinenses.

 Podemos ter uma ideia bem detalhada sobre o que e como foi realmente a epopéia dos casais açorianos e madeirenses, ao se transferirem para o Brasil e mais especificamente em Desterro (hoje Florianópolis) e seu entorno na Província de Santa Catarina.

Uma das grandes dificuldades de ler este livro foi a questão de ter sido feito uma transcrição literal dos documentos de época com todas as variáveis de grafia que muito posteriormente foram modificadas e não importava se era o rei ou seus súditos que estivessem escrevendo o que nós hoje consideraríamos como erros de grafia naquela época era perfeitamente natural, isso sem contar as abreviações no meio das cartas e também as repetições de documentos pois as vezes o mesmo documento era encontrado em lugares e arquivos diferentes. Tudo isso devido a burocracia portuguesa que informava que os documentos seguiam em vias diferentes.

A partir dos relados de Walter Piazza podemos ter acesso a toda a burocracia portuguesa e todos os seus graus de comando e influências inclusive as autoridades religiosas como Bispos e demais agregados da Igreja Católica que tinha uma certa simbiose com o sistema de governo português tendo em vista esse ser uma monarquia voltada e devota do catolicismo.

Conflitos com a Espanha e temor de perda de parte de suas posses na américa, principalmente na fronteira sul do Brasil, o governo de Portugal, se vê obrigado a tomar dinheiro emprestado “a juros’ de cinco por cento ao ano de capitalistas para então efetuar o que foi uma verdadeira epopéia para a época em questão.

Funcionários das mais diversas hierarquias governamentais e religiosas eram encarregados de fazerem um censo dos casais e com idades bem específica que quisessem se transladar para o Brasil e as ordem eram bem claras e deveriam ser reportadas diretamente a coroa portuguesa em Lisboa para que fosse organizado todo o engenhoso processo para a transferência transatlântica.

A burocracia portuguesa era de tal ordem que os mínimos detalhes eram colocados nos contratos com os “assentistas” assim chamados os transportadores que iriam realizar o transporte marítimo dos casais e seus filhos que assim o fossem permitidos serem transportados e inclusive especificava o quando de comida ou (ração) seria fornecido para cada pessoa maior, adolescente a partir de três anos até quatorze anos e designando que não poderia ser dado e cobrado nada os de até três anos pois estes não estaria sendo custeados pela coroa.

Espaços reservados para mulheres que não poderiam ser acessados por hipótese alguma por outros homens da embarcação exceto seus maridos, um número mínimo de padres a bordo para poder efetuar os ofícios religiosos, quantidade de água a ser distribuída e médico a bordo tudo isso fazia parte dos compromissos que deveriam ser seguidos, para que após a chegada ao destino final fosse efetuado o pagamento ao transportador e até os que morriam no trajeto eram descontados, já que o contrato previa o pagamento por pessoa transportada.

Na segunda metade do século XVIII o Arquipélago dos Açores (formado por nove ilhas) e também a Ilha da Madeira, ambas possessões da coroa portuguesa, passavam por uma explosão demográfica e também vitimados pelo flagelo da fome devido a uma série de eventos climáticos e também outros fenômenos naturais decorrentes da origem vulcânica dessas terras.

Erosão e exaurimento do solo, criaram a condição perfeita para a crise que assolou a região, e região esta que mesmo sendo uma grande potência agrícola, se torna insuficiente para alimentar sua população e ainda pagar os impostos devidos a coroa portuguesa sobre a produção.

Foi então que por convencimento de seus conselheiros Ultramarinos o então Rei de Portugal resolve abrir edital público para transferência de aproximadamente oito mil casais para suas possessões na américa e principalmente em Desterro ao sul do Brasil na Província de Santa Catarina.

Na província de Santa Catarina foi designado o Brigadeiro José da Silva Paes para proporcionar todo o alojamento e distribuição de terras, ferramentas e animais, bem como a alimentação mínima a base de farinha, carne e peixe por um período não inferior a um ano, para que os casais se instalassem da melhor forma. Por mais que isso possa ter sido pretendido jamais foi cumprido na íntegra conforme o edital real previa.

Imaginemos milhares de pessoas que levaram meses para cruzar o Atlântico deixando para trás tudo que tinham e que quando conseguiam vendiam por uma ninharia por acreditar em uma vida melhor chegar a um local completamente desconhecido e repleto de animais, terem que desbravar matas para construir suas residências e roças? Quanta dificuldade devem ter encontrado em Desterro na Ilha de Santa Catarina. Isso tudo ainda levando em conta que muitos dos seus entes queridos não puderam embarcar por estarem fora da idade que o régio edital previa.

Nesse período Desterro carecia de pessoas para completar o povoamento da terra e também para abastecer as necessidades da região e também os navios que seguiam para o Rio da Prata, e a vinda desses casais tinha exatamente esse objetivo.

Com a vinda dos casais de açorianos e madeirenses, para Desterro, comunidades foram criadas ou ampliadas, igrejas erguidas e também como previa o régio edital companhias de milícias destinadas a segurança e a ordem das localidades foram montadas por oficiais que já vieram com essa formação lá de Portugal.

A partir das inúmeras relações de passageiros dos transportadores e também de documentos do governo local podemos ter acesso a alguns nomes que posteriormente se tornaram famílias tradicionais de Florianópolis ou mesmo se não tradicionais por posses ou cargos, mas muito tradicionais nas vilas onde foram inseridas.

Atividades que tiveram um grande incremento com a vinda dos açorianos para desterro foram a fabricação de farinha de mandioca, produto esse que foi usado em substituição ao trigo e outros cereais plantados nas Ilhas dos Açores, fabricação de cachaça a partir da cana de açúcar que por sinal se tornou um dos produtos mais comercializados por Desterro, produção de peixe seco, plantação de frutas e também extração de lenha para abastecer os navios que seguiam para o sul, isso tudo fazia parte da economia local nesse período.

Conforme comento em cada pequeno resumo, que faço dos livros que leio para socializar o seu conteúdo, este espaço se torna pequeno ou inadequado para publicação de detalhes mais aprofundados dos livros, então temos a referência completa logo no início e sugiro aos que tenham interesse no assunto que façam suas pesquisas complementares de acordo com os seus objetivos.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC   12/10 /2021.



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