AS DEFESAS DA ILHA DE SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA
Dia 06 de abril de 2021, terminei
a leitura do meu 8º livro do ano, de Oswaldo Rodrigues Cabral.
AS DEFESAS DA ILHA DE
SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA/ Oswaldo Rodrigues Cabral Rio de Janeiro: Departamento
de Imprensa Nacional/Conselho Federal de Cultura, 1972. p. 136. Il.
Este livro é um documento de
grande valor histórico para todos os que se interessam sobre a história e vida
na Ilha de Santa Catarina no período logo após a vinda dos colonos açorianos
para cá provenientes de um processo de colonização organizado pela Coroa
Portuguesa.
Antes de contar a história do
livro propriamente dita, vou contar outra muito legal de como esse livro chegou
até as minhas mãos para que eu possa enfim escrever sobre ele.
Como residente em Florianópolis,
tenho uma certa dificuldade de encontrar no nosso mercado de Sebos ou livros
usados uma boa variedade de livros sobre a história da Ilha de Santa Catariana,
tema esse que tenho procurado ler e pesquisar com maior frequência e com isso
acabo tendo que procurar nos meios de venda online da internet e nesse caso a
Estante Virtual que é um grande HUB ou agregador de quase três mil Sebos do
Brasil inteiro tem facilitado muito diversas aquisições.
Quando da última compra que este
livro fazia parte, a minha surpresa foi grande, tendo em vista que o mesmo me
foi enviado por um Sebo da minha cidade, mais especificamente do Bairro dos
Ingleses chamado “O Escambau” termo bem utilizado no linguajar local, e para
minha total felicidade consegui saber quem foi o proprietário anterior e ainda
veio com algumas surpresas internas.
O livro pertenceu a um senhor que
carimbava em tinta verde diversas páginas do livro para que o mesmo ao cair em
alguma mão pudesse retornar ao seu dono e no carimbo assim estava “Dr. Luiz
Calderan Beltrão” residente na Av. Trompowsky, um dos endereços bem nobres de
Florianópolis, não preciso informar mais detalhes do ilustre proprietário do
livro, quanto a sua residência.
Outra coisa que me surpreendeu completamente
foi que este senhor era muito zeloso pela história e com grande conhecimento
também devido as algumas correções que estão no livro, mas surpresa mesmo foi
que o livro veio recheado de recortes de jornais e um inclusive é uma página
inteira do jornal Diário Catarinense datado de 15 de junho de 1992, onde tem
uma foto bem grande da Fortaleza de Anhatomirim quando as reformas estavam
sendo concluídas para abertura ao
público e no seu verso uma página sobre o relatório que se estava montando
referente a ECO/92 reunião da ONU sobre o clima ocorrida na cidade do Rio de
Janeiro no mesmo ano. Também tem vários recortes de jornais de datas diversas
que mostram o grau de ruínas em que as fortalezas se encontravam antes da sua
recuperação pela UFSC.
Voltando ao livro propriamente
dito, desde os primeiros anos que os portugueses puseram os pés no Brasil isso
no início do século XVI, a Ilha de Santa Catarina, antiga Ilha dos Patos, que
depois se tornou Desterro e atualmente é Florianópolis a capital do Estado de
Santa Catarina, que esse lugar de belezas sem iguais e também um dos melhores
portos naturais do sul do Brasil, é objeto de interesse tanto da Coroa
Portuguesa como também de outras nações devido ao seu caráter estratégico.
Como a Ilha de Santa Catarina era
o último porto natural dos navios que rumavam para a região do Prata e também
para o Pacífico e ainda tinha muita madeira para fornecimento de lenha aos
navios bem como madeiras nobres para consertar naves danificadas e também para
exportação e água em abundância bem como frutas e verduras de muitas espécies
este local se torna ponto de parada obrigatória para todos que tinham o sul
como destino que seja a Província de São Pedro do Rio Grande ou a região do
Prata.
Em 1737 a Coroa Portuguesa
atendendo a pedido do Governador do Rio de Janeiro com a finalidade de
resguardar em segurança toda a costa sul do Brasil inclusive fortificar a Ilha
de Santa Catarina que à este estava subordinada, e determina que sejam
construídas fortalezas para proteção e controle deste lugar conforme já
mencionado é estratégico para Portugal.
No ano de 1738 o Brigadeiro José
da Silva Paes então é designado por Carta Régia do Rei D. João V, para
construir quatro fortalezas com a finalidade de proteger a Ilha de Santa
Catarina, principalmente dos espanhóis.
Então são idealizadas três
fortalezas na região norte da ilha e uma ao sul da mesma, as três formariam uma
espécie de triângulo de fogo de acordo com suas posições que segundo o seu
idealizador teriam a condição de por meio de fogos cruzados interceptar
qualquer navio que tentasse entrar por essa via marítima e muito próximas da
cidade do Desterro e a do sul teria a finalidade de conter invasão que por essa
via pudesse tentar ingressar.
E assim em 1739 as fortalezas
começam a serem erguidas começando pela de Santa Cruz na ilha de Anhatomirim a
maior de todas, a de Santo Antônio na ilha de Ratones (Raton grande) e também a
de São José da Ponta Grossa essa em terra firme na Ilha de Santa Catarina e a
da Barra do Sul.
Além das fortalezas acima citadas
que realmente eram as maiores e também as melhores equipadas em poder de fogo e
ainda foram criados, mais quatro fortes no trecho que hoje entendemos por
Beiramar Norte que começavam no Forte de Santana e vinham até aonde próximo a
atual Praça Nereu Ramos (Hotel Magestic). Com isso podemos imaginar o quanto a
Ilha de Santa Catarina era militarizada tendo uma grande quantidade de
militares envolvidos na sua segurança e também outras atividades
administrativas.
Cada fortaleza funcionava com
corpo de tropa, governador capelão e demais oficiais de forma autônoma,
independentemente de receberem ou não seus vencimentos que por vezes chegava a
fica até seis a oito anos atrasados e os soldados praticamente vestindo trapos
como fardamento e completamente mal municiados.
Anos mais tarde foram
identificados vários erros no projeto de construção das fortalezas, se chegou a
conclusão que elas não poderiam atender as finalidades de proteção a que o Rei
de Portugal acreditava ter feito ao construir essas obras. Pelo tipo de
armamento os fogos jamais poderiam se cruzar para realmente funcionar como um
triângulo de fogo, ou seja, praticamente serviam para atirar balas ao mar pois
não chegariam a qualquer navio que adentrasse pelo lado norte.
A 20 de fevereiro do ano de 1777
os espanhóis sabendo dessas deficiências invadem a Ilha de Santa Catarina por
Canasvieiras, fazendo que essa se rendesse sem que fossa dado um único tiro, e
inclusive o comandante de duas das três fortalezas literalmente garraram o mato
vindo a se render dias depois. Os espanhóis, ficam de posse de Desterro por
aproximadamente um ano até que os reinos de Portugal e Espanha resolvem um
comum acordo se pacificarem.
As atividades militares na Ilha
de Santa Catarina sempre foram levadas ao extremo pois conforme promessa feita
aos colonos que foram enviados das Ilhas dos Açores esses não poderiam ser
convocados para ou alistados para o serviço militar, fato esse que os diversos Governadores
de Desterro frequentemente convocavam compulsoriamente estes para servirem nas
tropas dos quarteis dentro das fortalezas e também nas áreas urbanas.
A convocação era de forma
vitalícia sendo impossível a sua baixa a menos que os soldados estivessem muito
velhos ou estropiados de alguma guerra que eles participassem normalmente no
sul do Brasil ou muito doentes e na maioria das vezes ainda tinham que indicar
um parente ou amigo para ficar no seu lugar.
As tropas dos quartéis eram
divididas em três grupos conforme o grau de influência dos cidadãos que vinham
a ser, O Regimento de Linha, De Milícias e As Ordenanças cada um desses grupos
com suas hierarquias e postos militares divididos em alguns que hoje nem usamos
mais como um dos mais importantes abaixo do Comandante que era o Sargento Mór.
O livro é muito bem escrito
apresentando uma grande quantidade de mapas e planilhas com inventários de
todos os equipamentos, munições de diversos calibres e contingentes de cada uma
das fortalezas ou pequenos fortes bem como os nomes dos comandantes e o tipo de
vestimenta das tropas da época.
Como esse espaço é relativamente
limitado vou encerrando por aqui e sugiro a leitura desse livro aos que se
interessam pela História da Ilha de Santa Catarina ou da História militar da
Ilha de Santa Catarina na Desterro dos séculos XVIII e XIX.
Grande abraço à todos.
Paulo Coelho –
Administrador/Bacharel e Licenciado em História.
Florianópolis – SC 19/04/2021
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