19 de abril de 2021

 



AS DEFESAS DA ILHA DE SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA

Dia 06 de abril de 2021, terminei a leitura do meu 8º livro do ano, de Oswaldo Rodrigues Cabral.

AS DEFESAS DA ILHA DE SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA/ Oswaldo Rodrigues Cabral Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional/Conselho Federal de Cultura, 1972. p. 136. Il.

Este livro é um documento de grande valor histórico para todos os que se interessam sobre a história e vida na Ilha de Santa Catarina no período logo após a vinda dos colonos açorianos para cá provenientes de um processo de colonização organizado pela Coroa Portuguesa.

Antes de contar a história do livro propriamente dita, vou contar outra muito legal de como esse livro chegou até as minhas mãos para que eu possa enfim escrever sobre ele.

Como residente em Florianópolis, tenho uma certa dificuldade de encontrar no nosso mercado de Sebos ou livros usados uma boa variedade de livros sobre a história da Ilha de Santa Catariana, tema esse que tenho procurado ler e pesquisar com maior frequência e com isso acabo tendo que procurar nos meios de venda online da internet e nesse caso a Estante Virtual que é um grande HUB ou agregador de quase três mil Sebos do Brasil inteiro tem facilitado muito diversas aquisições.

Quando da última compra que este livro fazia parte, a minha surpresa foi grande, tendo em vista que o mesmo me foi enviado por um Sebo da minha cidade, mais especificamente do Bairro dos Ingleses chamado “O Escambau” termo bem utilizado no linguajar local, e para minha total felicidade consegui saber quem foi o proprietário anterior e ainda veio com algumas surpresas internas.

O livro pertenceu a um senhor que carimbava em tinta verde diversas páginas do livro para que o mesmo ao cair em alguma mão pudesse retornar ao seu dono e no carimbo assim estava “Dr. Luiz Calderan Beltrão” residente na Av. Trompowsky, um dos endereços bem nobres de Florianópolis, não preciso informar mais detalhes do ilustre proprietário do livro, quanto a sua residência.

Outra coisa que me surpreendeu completamente foi que este senhor era muito zeloso pela história e com grande conhecimento também devido as algumas correções que estão no livro, mas surpresa mesmo foi que o livro veio recheado de recortes de jornais e um inclusive é uma página inteira do jornal Diário Catarinense datado de 15 de junho de 1992, onde tem uma foto bem grande da Fortaleza de Anhatomirim quando as reformas estavam sendo concluídas  para abertura ao público e no seu verso uma página sobre o relatório que se estava montando referente a ECO/92 reunião da ONU sobre o clima ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no mesmo ano. Também tem vários recortes de jornais de datas diversas que mostram o grau de ruínas em que as fortalezas se encontravam antes da sua recuperação pela UFSC.

Voltando ao livro propriamente dito, desde os primeiros anos que os portugueses puseram os pés no Brasil isso no início do século XVI, a Ilha de Santa Catarina, antiga Ilha dos Patos, que depois se tornou Desterro e atualmente é Florianópolis a capital do Estado de Santa Catarina, que esse lugar de belezas sem iguais e também um dos melhores portos naturais do sul do Brasil, é objeto de interesse tanto da Coroa Portuguesa como também de outras nações devido ao seu caráter estratégico.

Como a Ilha de Santa Catarina era o último porto natural dos navios que rumavam para a região do Prata e também para o Pacífico e ainda tinha muita madeira para fornecimento de lenha aos navios bem como madeiras nobres para consertar naves danificadas e também para exportação e água em abundância bem como frutas e verduras de muitas espécies este local se torna ponto de parada obrigatória para todos que tinham o sul como destino que seja a Província de São Pedro do Rio Grande ou a região do Prata.

Em 1737 a Coroa Portuguesa atendendo a pedido do Governador do Rio de Janeiro com a finalidade de resguardar em segurança toda a costa sul do Brasil inclusive fortificar a Ilha de Santa Catarina que à este estava subordinada, e determina que sejam construídas fortalezas para proteção e controle deste lugar conforme já mencionado é estratégico para Portugal.

No ano de 1738 o Brigadeiro José da Silva Paes então é designado por Carta Régia do Rei D. João V, para construir quatro fortalezas com a finalidade de proteger a Ilha de Santa Catarina, principalmente dos espanhóis.

Então são idealizadas três fortalezas na região norte da ilha e uma ao sul da mesma, as três formariam uma espécie de triângulo de fogo de acordo com suas posições que segundo o seu idealizador teriam a condição de por meio de fogos cruzados interceptar qualquer navio que tentasse entrar por essa via marítima e muito próximas da cidade do Desterro e a do sul teria a finalidade de conter invasão que por essa via pudesse tentar ingressar.

E assim em 1739 as fortalezas começam a serem erguidas começando pela de Santa Cruz na ilha de Anhatomirim a maior de todas, a de Santo Antônio na ilha de Ratones (Raton grande) e também a de São José da Ponta Grossa essa em terra firme na Ilha de Santa Catarina e a da Barra do Sul.

Além das fortalezas acima citadas que realmente eram as maiores e também as melhores equipadas em poder de fogo e ainda foram criados, mais quatro fortes no trecho que hoje entendemos por Beiramar Norte que começavam no Forte de Santana e vinham até aonde próximo a atual Praça Nereu Ramos (Hotel Magestic). Com isso podemos imaginar o quanto a Ilha de Santa Catarina era militarizada tendo uma grande quantidade de militares envolvidos na sua segurança e também outras atividades administrativas.

Cada fortaleza funcionava com corpo de tropa, governador capelão e demais oficiais de forma autônoma, independentemente de receberem ou não seus vencimentos que por vezes chegava a fica até seis a oito anos atrasados e os soldados praticamente vestindo trapos como fardamento e completamente mal municiados.

Anos mais tarde foram identificados vários erros no projeto de construção das fortalezas, se chegou a conclusão que elas não poderiam atender as finalidades de proteção a que o Rei de Portugal acreditava ter feito ao construir essas obras. Pelo tipo de armamento os fogos jamais poderiam se cruzar para realmente funcionar como um triângulo de fogo, ou seja, praticamente serviam para atirar balas ao mar pois não chegariam a qualquer navio que adentrasse pelo lado norte.

A 20 de fevereiro do ano de 1777 os espanhóis sabendo dessas deficiências invadem a Ilha de Santa Catarina por Canasvieiras, fazendo que essa se rendesse sem que fossa dado um único tiro, e inclusive o comandante de duas das três fortalezas literalmente garraram o mato vindo a se render dias depois. Os espanhóis, ficam de posse de Desterro por aproximadamente um ano até que os reinos de Portugal e Espanha resolvem um comum acordo se pacificarem.

As atividades militares na Ilha de Santa Catarina sempre foram levadas ao extremo pois conforme promessa feita aos colonos que foram enviados das Ilhas dos Açores esses não poderiam ser convocados para ou alistados para o serviço militar, fato esse que os diversos Governadores de Desterro frequentemente convocavam compulsoriamente estes para servirem nas tropas dos quarteis dentro das fortalezas e também nas áreas urbanas.

A convocação era de forma vitalícia sendo impossível a sua baixa a menos que os soldados estivessem muito velhos ou estropiados de alguma guerra que eles participassem normalmente no sul do Brasil ou muito doentes e na maioria das vezes ainda tinham que indicar um parente ou amigo para ficar no seu lugar.

As tropas dos quartéis eram divididas em três grupos conforme o grau de influência dos cidadãos que vinham a ser, O Regimento de Linha, De Milícias e As Ordenanças cada um desses grupos com suas hierarquias e postos militares divididos em alguns que hoje nem usamos mais como um dos mais importantes abaixo do Comandante que era o Sargento Mór.

O livro é muito bem escrito apresentando uma grande quantidade de mapas e planilhas com inventários de todos os equipamentos, munições de diversos calibres e contingentes de cada uma das fortalezas ou pequenos fortes bem como os nomes dos comandantes e o tipo de vestimenta das tropas da época.

Como esse espaço é relativamente limitado vou encerrando por aqui e sugiro a leitura desse livro aos que se interessam pela História da Ilha de Santa Catarina ou da História militar da Ilha de Santa Catarina na Desterro dos séculos XVIII e XIX.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     19/04/2021






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