29 de março de 2021

 



ARCA AÇORIANA

Dia 17 de março de 2021, terminei a leitura do meu 7º livro do ano, de Almiro Caldeira de Andrade

 ARCA AÇORIANA / Almiro Caldeira de Andrade. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1984. p. 154

Este livro é um romance de ficção que faz parte de uma trilogia chamada ROCAMARANHA (não tive acesso aos dois anteriores), que além de narrar a saga da travessia do Atlântico pelos imigrantes açorianos, é ambientado em Desterro atual Florianópolis capital do Estado de Santa Catarina no ano de 1777, quando a ainda provinciana cidade de Desterro foi invadida e ocupada pelos espanhóis por cerca de um ano.

O início da história se dá em um momento que uma avó, conta para sua neta sobre uns segredos guardados por gerações em uma Arca da sua bisavó onde tinham objetos e documentos que por muito tempo pertenceram a família e eram desconhecidos de muita gente.

Por tratar se de um romance, mesmo sendo ambientado em local e tempo histórico adequado, ou seja, a Ilha de Santa Catarina ou Desterro da época é o local em destaque. Se pode notar toda uma licença poética do escritor tanto nos modos de vida e convívio bem como o jeito que os sentimentos e amores são relatados, o que vem a ser um pouco diferente da forma que vemos os descendentes de açorianos que hoje temos contato, bem como o que ouvimos sobre seus ancestrais.

Normalmente o perfil do açoriano em seu seio doméstico nos é apresentado como uma pessoa, mais introspectiva e recatada principalmente em relação à estranhos e isso muda tudo quando os personagens com seus dramas, sonhos e intrigas são apresentados.

Na Desterro de 1777 o modo de vida mesmo com a vinda dos primeiros colonos vindo do Arquipélago dos Açores a partir de 1748 por projeto de emigração da Coroa Portuguesa, ainda é completamente típico de vila praticamente esquecida onde a simples mudança de um bairro para outro, era normalmente tratada como viagem, devido a precariedade de suas estradas, tendo em vista que boa parte do transporte ainda se fazia por via marítima através de canoas. O que não a impedia de ter a sua importância.

A Ilha de Santa Catarina ou Desterro, por ser o melhor e o último porto onde os navios que seguiam para a região do Rio da Prata, sempre foi um local de parada para reabastecimento com água fresca, e carne das mais diversas, farinha, aguardente, madeiras em forma de lenha principalmente. E com isso utilizada como projeto de livrar parte da população das Ilhas dos Açores em Portugal da fome em um processo de colonização.

Neste período a posse da terra aos colonos, ainda era uma concessão do reino aos que para cá se deslocaram, por titularidades chamadas de Sesmarias, ou seja, uma quantidade de terra que delimitava todo o espaço que cada família ou grupo familiar poderiam ocupar de forma legal devendo lealdade a Coroa Portuguesa.

Tal como hoje ainda é comum várias pessoas da mesma família se instalarem dentro desse mesmo lote de terra e construírem casas e plantarem suas roças onde começavam a produzir para sí, conforme a condição civil ia mudando (casamentos) e a família aumentando.

O autor faz uma referência bem humorada de como a Imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos acabou por permanecer em Desterro tendo em vista que o destino final da Imagem seria Porto Alegre, ou São Pedro do Rio Grande como assim era conhecida a capital da província ao sul de Santa Catarina.

Informa que um grupo de marinheiros chamou um padre para “benzer” o barco que conduzia a imagem já que depois de três tentativas de levantar velas, o mar ficava revolto não dando condições de seguir viagem isso tudo sempre com escárnio do próprio Capitão do barco. Após acertar o valor da indenização sobre o valor da imagem o santo ficou aqui e o barco seguiu.

Voltando a conversa inicial da avó com a neta, é informado que a bisavó se apaixonou por um rapaz local e que por uma desavença dos dois em relação a um oficial espanhol que este acreditava que ela teve algo com o dito oficial fazendo com que passassem um bom tempo distanciados um do outro. Fato esse somente resolvido quando da morte desse oficial em uma disputa com um outro pretendente da moça.  Logo depois retomam suas vidas na família inclusive construindo casa e plantando junto das terras, que por doação real a eles pertenciam, e não sendo entregues aos oficiais espanhóis por resistência a durante a ocupação da Ilha no ano de 1777 inclusive correndo o risco de confiscos das mesmas e morte por traição ao reino de Espanha.

Algumas escaramuças entre os invasores, e alguns insurgentes locais ocorrem o que deixa as famílias dos envolvidos em estado de alerta constante com medo de perderem suas terras sob forma de confisco pelos representantes dos Reino da Espanha.

Muito bem representado toda a estrutura administrativa, social, de trabalho e também a indignação dos que não concordavam em prestar vassalagem (mesmo correndo o risco de perderem suas terras) ao reino da Espanha, na Desterro ocupada de 1777 o que durou aproximadamente um ano, quando os dois reinos então fizeram acordo sobre as demarcações e limites a serem explorados por cada uma das coroas em sua zona de influência.

O livro termina com uma conversa de uma descendente muito distante dos personagens que foram o centro de toda a obra sendo apresentados a uns documentos e objetos que por muitas gerações ficaram esquecidos em uma arca que data do tempo da vinda dos primeiros imigrantes açorianos que em Desterro chegaram.

Por ser um romance ficcional, mesmo trazendo a luz fatos, nomes e personalidades eu preferi fazer esse comentário não levando em conta todos os documentos históricos que são de conhecimento sobre a falha nas defesas da Ilha de Santa Catarina o que veio a permitir a sua invasão, a partir, de Canasvieiras pelos espanhóis.

Mesmo sendo uma obra de ficção, achei a ambientação territorial, e das pessoas bem como seus costumes, crenças, trajes, e animais domésticos bem adequados para contar uma história diferente sobre Desterro.

 Grande abraços à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     27/03/2021.





24 de março de 2021

 


FEIRAS LIVRES ACOMPANHANDO A HUMANIDADE – (Paulo Coelho)

 

Se tem um tema relativo ao comercio, que envolve os humanos por milênios e me fascina muito inclusive é citado na Bíblia e em praticamente em todas as culturas são as feiras livres, local esse que ao longo dos tempos serviu de ambiente para as sociabilidades, e também recebimento de notícias.

A feira livre abre a oportunidade para que os pequenos comerciantes que não tenham um comércio estático e de portas abertas com horário para abrir e fechar, possam trazer seus produtos e montarem as suas barracas praticamente em “qualquer” lugar. Isso não quer dizer que as feiras livres sejam uma terra de ninguém tendo em vista que atualmente todas as feiras são reguladas pelas municipalidades.

O ambiente normalmente em espaço aberto e onde os feirantes se confinam em pequenos locais nas suas barracas as vezes ocupado por vários integrantes da mesma família, permite que os mesmos tenham técnicas próprias de divulgação e apregoam os seus produtos de acordo com as qualidades e também seus possíveis usos.

Ir à feira ou fazer a feira é encontro com nossas raízes mais ancestrais, desde os períodos mais remotos onde o escambo era, a moeda corrente, ou seja, a troca também foi utilizada como meio de comércio e dava a tônica aos comércios nas feiras livres também.

Hoje muitas das feiras livres, estão um tanto quanto modernizadas e não vendem somente produtos de origem rural e camponesa como antigamente, são verdadeiras “delicatessen” ou seja, locais de venda de produtos mais sofisticados destinados a um público bem específico. E hoje em várias barracas praticamente não temos mais o uso da moeda ou dinheiro vivo como forma de pagamento e sim cartões de crédito ou débito em suas mais variadas forma de uso.

Mesmo com a evolução dos supermercados, e o comércio por meio eletrônico com delliveri, ainda é crescente o número de comunidades mesmo que em grandes centros urbanos e próximos a bairros ditos como “nobres” as feiras livres se fazem presentes, até pelo nível de personalização que elas permitem. Com esse sistema o cliente não fica restrito as embalagens e quantidades pré - ofertadas pelos grandes mercados e tem sempre produtos frescos e na quantidade que bem desejarem.

A minha origem camponesa e também de filho de pequeno comerciante me permite conversar com os leitores sobre o assunto tendo em vista que um pequeno comércio que o meu PAI criou a mais de 50 anos e local esse que serviu para todo o sustento dos seus seis filhos, até hoje ainda se mantém aberto sendo conduzido por um irmão que não seguiu a carreira de trabalhador em empresas ou de governos.

Grande abraço à todos.

Paulo Coelho – Administrador e Bacharel e Licenciado em História.

Florianópolis – SC 24/03/2021


                                           Foto Paulo Coelho março/2021




                                            Foto Paulo Coelho março/2021

                                                      Foto Paulo Coelho março/2021

 


UM JOGADOR, UM TIME E UMA CIDADE EM MOVIMENTO

 O cenário atual do futebol profissional de Florianópolis, em especial no que diz respeito ao clube que reside na parte continental da capital do estado, é decadente. Contudo, a história está aí pra mostrar a grandeza do Figueirense, que pode se vangloriar da memória de Aírton Raul de Andrade, o "Pinga".

Nascido na Florianópolis da década de 1950, mais precisamente em 1953, Pinga marcou época no Figueirense Futebol Clube.

Filho do seu Raul, que cuidava do gramado do estádio Orlando Scarpelli, Pinga deixou seu nome na história do alvinegro do Estreito

na década de 1970, um período lembrado com muita saudade por aqueles que viveram essa época.

Foi na década de 1970 que a ponte Colombo Salles foi inaugurada, dando um significativo fôlego para a tradicional ponte Hercílio Luz, o que transformaria o trânsito da cidade.

Nessa década, muitas famílias rumavam para as praias do norte da ilha, como Jurerê e Canasvieiras, ou optavam pelas praias do continente, como a praia da Saudade e a de Itaguaçú, fosse numa Rural Wilys ou de bicicleta, ou a pé.

No apagar das luzes de uma década tão marcante, o Figueirense iniciava a substituição das suas arquibancadas metálicas por arquibancadas de concreto em dezembro de 1979, mesmo ano em que Santa Catarina colocava cinco clubes na série A do campeonato brasileiro.

Em meio a uma época que denunciava o que viria a ser Florianópolis, uma cidade diversa e bem maior do que as pessoas da época poderiam imaginar, o Figueirense ganhava dois catarinenses (1972 e 1974) e fazia suas primeiras participações no campeonato brasileiro.

Aírton Raul de Andrade marcou sua trajetória no Figueirense com 483 jogos e dois títulos estaduais. Atuou no clube no momento em que o futebol de Santa Catarina tentava dar as caras no cenário nacional e teve muita importância para que o alvinegro da capital pudesse apresentar a sua torcida uma história tão linda e vitoriosa.

O cenário atual não é dos melhores para os torcedores do Figueirense mas a salvação pode estar ancorada também na relação da torcida com a história do clube, afinal, vive de passado quem tem.

Um grande abraço à todos.

 

Roberto Carlos Silva e Silva – Bacharel e Licenciado em História

Florianópolis – SC  23/03/2021



                                                     Foto Acervo Placar/1975
                                                    


22 de março de 2021


 SOCIEDADE CARNAVALESCA TENENTES DO DIABO - CARNAVAL DE 1957

Neste final de semana eu e minha esposa estávamos manuseando uns documentos antigos do meu sogro o Senhor Elpídio de Souza Lopes e encontramos um raro documento da tradicional Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo, sociedade essa que eu quando morava no bairro Prainha em Florianópolis, passava em frente todos os dias na década de 1970 e 1980.

Nesta e em outras sociedades carnavalescas que existiam na Ilha , cidade de Florianópolis, eram feitos os Carros de Mutação de acordo com o tema apresentado.

Neste documento que eu encontrei tem todos os nomes da Diretoria de 1957, bem como de todos os funcionários e apoiadores que ajudavam a fazer esses carros que por sinal eram belíssimos. No carnaval de 1957 a Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo homenageou o Governador Jorge Lacerda, aonde diversos carros tem seus nomes e especificações apresentados.

Devo retornar ao assunto assim que reunir novos materiais em pesquisa.

Grande abraço a todos.

Paulo Coelho  - Administrador/Bacharel e Licenciado em História.




Florianópolis - 22 de março de 2021. 

 


 

19 de março de 2021

 


OS ENGENHOS DE FARINHA DE MANDIOCA DA ILHA DE SANTA CATARINA – Etnografia Catarinense

Dia 12 de março de 2021, terminei a leitura do meu 6º livro do ano, de Nereu do Vale Pereira

 OS ENGENHOS DE FARINHA DE MANDIOCA DA ILHA DE SANTA CATARINA – Etnografia Catarinense

/ Nereu do Vale Pereira. Florianópolis : Fundação Cultural Açorianista, 1993.  208p: il.

Este livro tem como abordagem, um levantamento etnográfico sobre a cultura açoriana estabelecida na Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis após a vinda de Imigrantes Açorianos, a partir de 1748, trazendo o uso dos engenhos que aqui foram adaptados, para a fabricação da farinha de mandioca na ilha.

Falar sobre os Engenhos de farinha para mim é relembrar histórias contadas no âmbito da minha família mesmo nós não temos nascidos na região de Florianópolis e sim do médio Vale do Itajaí. Lembro perfeitamente de ouvir minha mãe e meu avó falarem dos trabalhos que eles prestavam em um Engenho de farinha e possivelmente de cana também (este com a finalidade de fazer açúcar grosso e melado), de um tio da minha mãe que tinha um pouco mais de recursos.

O meu avô materno uma pessoa de quase dois metros de altura nos contava que o cunhado sempre pagava a mais para ele porque ele “rendia” bem mais que os outros que trabalhavam a “jornal” ou seja, por jornada, já a minha mãe contava que quando criança ajudava no engenho do tio e depois “ganhava” umas bonequinhas de açúcar (não sei exatamente o formato e a quantidade), mas a lembrança era bem real e passada de forma feliz.

Voltando ao livro de Nereu do Vale Pereira, sobre os Engenhos de Farinha de Mandioca na Ilha de Santa Catarina, podemos ver que na segunda metade do século XVIII, logo depois que a primeira leva de casais açorianos aqui chegaram por meio de um projeto de colonização da Coroa Portuguesa, até para livrar os habitantes das Ilhas dos Açores da fome extrema que assolava a região.

Os engenhos que lá eram utilizados com outras finalidades devido a mandioca não ser um produto do Continente Europeu, logo foram adaptados ao ambiente de produção e recursos disponíveis locais na ilha. Adaptando os engenhos e com uma grande produção de mandioca na ilha logo a farinha de mandioca se torna o principal produto de exportação não somente da ilha bem como de toda a Província de Santa Catarina durante a o final do século XVIII e por quase todo o século XIX. Somente Desterro chegou a ter aproximadamente oitocentos engenhos de farinha de mandioca.

Por ser a farinha de mandioca um produto de fácil manufatura uma grande quantidade de residências do interior da ilha, tinham um engenho junto a casa de moradia, tendo em vista que esta unidade de produção não ocupava muito espaço e a mão de obra era quase que totalmente familiar. Quando do período da farinhada ou de fazer farinha se usava também a mão de obra de vizinhos e parentes que raramente recebiam em dinheiro por esse serviço e sim em troca de dia ou mesmo em parte da produção.

Por mais interessante que venha a ser a produção de um engenho de farinha na ilha poderia ter peculiaridades diferentes entre si em localidades diversas, tendo em vista que o modo de fazer o engenho estava na cabeça do mestre que seria responsável pela sua execução, bem como os recursos disponíveis como tipo de madeira e espaço disponível. Não existia uma planta única que fosse utilizada para uso em escala até porque a maioria dos mestres que os construíam eram praticamente pessoas analfabetas, mas com grande capacidade de execução.

Por questões de relevo quanto aos rios e regatos um tipo de engenho muito conhecido para o interior do estado não teve aceitação localmente, que é o engenho movido a roda d´agua, dando lugar aos engenhos movidos a boi. O boi como elemento essencial de tração era responsável por movimentar os equipamentos que se encaixavam um ao outro por intrincados mecanismos totalmente feitos a mão e em madeira.

Domar e treinar o boi para uso na canga era uma atividade que levava vários meses, pois o animal, tinha que estar completamente adaptado ao ambiente e com os equipamentos corretos para o árduo e contínuo trabalho no engenho e se alguma coisa fugisse do controle poderia acabar destruindo todo o equipamento.

Produzir farinha de mandioca não era uma tarefa exclusiva da Ilha de Santa Catarina, tendo em vista que em várias regiões da Província e também do país tinham produção, porém em escala muito menor e ainda não com a mesma qualidade. Na verdade, a produção de farinha já era realizada a muito tempo pelos primeiros habitantes dessa terra, ou seja, os nossos indígenas, claro que em um processo muito rudimentar para atender as suas necessidades básicas de alimentação.

Ao decorrer do livro de Nereu do Vale Pereira, são apresentados desenhos, plantas e escalas de como eram produzidos os engenhos bem como suas peças e suas diversas funcionalidades eram produzidos. Também muitas fotografias mostrando os diversos engenhos ainda existentes quando da pesquisa realizada desde a década de sessenta ao final da década de oitenta do século passado e também toda a sociabilidade que a Farinhada ou fazer farinha permitiam nos frios dias de inverno.

A atividade de produção de farinha de mandioca conforme conhecemos, começou o seu ciclo final a partir de 1963, quando começam a chegar os primeiros engenhos elétricos que passam a produzir de forma praticamente industrial e começam a usar o nome de Fecularias. Com a mecanização praticamente se encerra a atividade artesanal, familiar e de grande congregação social nas localidades da atual Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina.

Acredito que de uma forma ou de outra, todos nós temos em um passado não muito distante, através dos nossos ancestrais um forte convívio com a farinha de mandioca como base de alimentação ou mesmo de comércio, conforme já citado no texto devido este produto ser o principal item de exportação da Província de Santa Catarina.

A finalidade deste texto é fazer um breve apanhado sobre o tema dos Engenhos de Farinha na Ilha de Santa Catarina, e recomendo aos que gostem e tenham interesse sobre o assunto, quer seja por interesse histórico e comercial ou mesmo de histórias familiares conforme foi o meu caso, que leiam o livro que acabo de descrever.

Grande abraços à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     19/03/2021.

7 de março de 2021

 


O DESMATAMENTO DA ILHA DE SANTA CATARINA DE 1500 AOS DIAS ATUAIS

Dia 23de fevereiro de 2021, terminei a leitura do meu 5º livro do ano, de Mariléia Martins Leal Caruso

Caruso, Mariléia Martins Leal

O desmatamento da Ilha de Santa Catarina de 1500 aos dias atuais / Mariléia Martins Leal Caruso. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1990. 160p.

Este livro tem como abordagem, um levantamento histórico sobre o processo de ocupação e também as práticas relacionadas a cobertura vegetal da Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis, que procura apresentar dados desde 1500 aos dias atuais.

Antes de começar a falar especificamente sobre o livro citado acima vou fazer um comentário de caráter pessoal, tendo em vista, que vai ao encontro com o teor do livro.

No ano de 1982 eu Paulo Coelho um jovem de 18 anos contra a minha vontade fui forçado a “servir” ao Exército Brasileiro como recruta do SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO uma coisa que eu abomino até os dias de hoje. Mas deixando para trás esse infortúnio da minha vida vou entrar no texto sobre o livro em questão.

Conforme citado acima como recruta do Exército fui participar de um acampamento obrigatório (mesmo eu servindo em uma unidade administrativa) e esse acampamento, foi em um campo hoje desativado no Campeche no Leste da Ilha de Santa Catarina em um lugar magnífico que nunca deveria ter sido usado para essa atividade. Fizemos uma incursão por uma mata completamente fechada com árvores gigantes e rios também na localidade dos morros do Rio Tavares. (até hoje tenho uma cicatriz na perna direita devido um pequeno “acidente” lá ocorrido.

Sempre me intrigou a vegetação exuberante da Ilha de Santa Catarina atual Florianópolis, acreditando se tratar de vegetação primária, ou seja, que nunca foi desmatada. Por volta de uns 15 anos atrás eu estava na casa de um amigo no Rio Tavares com uma boa vista para esses morros que acabei de falar e ao ver uma mata muito bem formada perguntei, Pedro essa mata será que é de primeira geração e ele me disse claro que não isso em algum momento já foi tudo desmatado.

Fiquei comigo pensando como que já foi tudo desmatando, andei pelo Sertão do Ribeirão, do Peri do Saquinho, da Lagoinha do Leste e vários outros lugares da Ilha e nunca me pareceu que isso pudesse ter sido já derrubado em algum tempo?

Hoje formado em História pela FAED/UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina, tenho direcionado as minhas leituras para o conhecimento da nossa história política, comercial e de colonização da Ilha de Santa Catariana atual Cidade de Florianópolis capital do Estado de Santa Catarina.

Já em várias leituras anteriores o fator do desmatamento e o fornecimento de lenha e madeira para a exportação a partir de Desterro tem se tornado muito comum e começou a clarear meus conhecimentos quanto a cobertura florestal dessa ilha.

No livro o Desmatamento na Ilha de Santa Catarina a autora nos traz informações muito precisas sobre cada Bioma existente na nossa Ilha e o quanto foi destruído principalmente logo após a chegada dos colonizadores açorianos que tinham como matéria prima para praticamente todas as suas produções a lenha e também a madeira.

Segundo relatos aqui já por volta de do século XVIII, ou seja, no final dos anos 1700 já era visível que os morros haviam sido desmatados, apresentando cicatrizes que denunciavam essa atividade predatória. Somente para conhecimento por volta do século XIX tinham algo em torno de oitocentos engenhos de farinha e mais de cem engenhos ou alambiques de cachaça, bem como inúmeras Caieiras que transformavam conchas de Berbigão e Mariscos em cal para a construção de casas e também vários curtumes de peles que também usavam muita lenha.

Desde o início do século XVI, ou seja, quando o Brasil foi descoberto inúmeros navegadores por aqui passaram e todos falavam da exuberância das matas da Ilha que inclusive quando da vinda dos Açorianos foram citadas como local ideal para esconderijo de invasores, devido a densidade fechada da Floresta. Hoje fica difícil de acreditar que aqui já tivemos exemplares típicos da Mata Atlântica como Canela, Peroba e outras árvores com algo em torno de 40 metros de altura.

Centenas ou milhares de navios que por aqui passaram levaram a vegetação de nossas florestas e mangues como lenha ou madeiras de exportação praticamente de graça, quando isso não era mesmo de graça inclusive por determinação dos governos locais para atender aos pedidos dos capitães de barcos que aqui atracavam.

Comércio muito pouco e as nossas matas viravam bens de troca por qualquer coisa que pudesse ter alguma utilidade para os seus moradores, os valores pagos pelos comandantes das embarcações por milheiro de “achas” de lenha, ou pedaços de praticamente um metro cada, era irrisório.  Com isso os colonizadores que vieram para desenvolver a nossa cidade eram tão pobres que cada vez mais tinha que entrar floresta e mangues a dentro ou subir morros para conseguir lenha e madeira para comercializar com os “de fora’.

Ao falar dos desmatamentos a autora deixa clara que a pressão sobre os nossos Mangues um bioma muito frágil era enorme tendo em vista que por estarem na desembocadura de rios e serem servidos por inúmeros canais os tornavam a forma mais fácil de conseguir lenha para uso em seus engenhos e também para comercializar. O detalhe que ao destruir o Mangue automaticamente estava destruindo também toda a complexa cadeia de vida que esses verdadeiros santuários, envolvem.

Todo um apanhado sobre as tentativas de contenção ao desmatamento devido a urbanização e o crescimento da cidade foi questionado e também uns ridículos processos de reflorestamento com Pinus Eliotis e Eucalipto, espécies invasoras que são chamadas de “deserto verde’ o que não permite que nenhuma espécie sobrevida sob suas sombras  quer seja de fauna e flora e cria um solo totalmente impermeável causando diversos problemas como falta de água nos lençóis freáticos contribuindo para a mudança no ciclo das chuvas em regiões da ilha.

Vou encerrando por aqui o comentário sobre esse livro que muito me emocionou ao fazer a sua leitura, tentando imaginar o quanto de belo e diversificado deve ter sido as florestas e todos os biomas da Ilha de Santa Catarina antes de sua quase total destruição.

Sugiro à todos os que puderem ter acesso a este livro e bem como os demais a esse assunto que leiam para entender o porquê é importante hoje no início da terceira década do século XXI, preservar os nosso recursos naturais , como florestas, dunas, mangues, lagoas e nascentes de rios que nos cercam.

Grande abraços à todos.

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     07/032021.