7 de março de 2021

 


O DESMATAMENTO DA ILHA DE SANTA CATARINA DE 1500 AOS DIAS ATUAIS

Dia 23de fevereiro de 2021, terminei a leitura do meu 5º livro do ano, de Mariléia Martins Leal Caruso

Caruso, Mariléia Martins Leal

O desmatamento da Ilha de Santa Catarina de 1500 aos dias atuais / Mariléia Martins Leal Caruso. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1990. 160p.

Este livro tem como abordagem, um levantamento histórico sobre o processo de ocupação e também as práticas relacionadas a cobertura vegetal da Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis, que procura apresentar dados desde 1500 aos dias atuais.

Antes de começar a falar especificamente sobre o livro citado acima vou fazer um comentário de caráter pessoal, tendo em vista, que vai ao encontro com o teor do livro.

No ano de 1982 eu Paulo Coelho um jovem de 18 anos contra a minha vontade fui forçado a “servir” ao Exército Brasileiro como recruta do SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO uma coisa que eu abomino até os dias de hoje. Mas deixando para trás esse infortúnio da minha vida vou entrar no texto sobre o livro em questão.

Conforme citado acima como recruta do Exército fui participar de um acampamento obrigatório (mesmo eu servindo em uma unidade administrativa) e esse acampamento, foi em um campo hoje desativado no Campeche no Leste da Ilha de Santa Catarina em um lugar magnífico que nunca deveria ter sido usado para essa atividade. Fizemos uma incursão por uma mata completamente fechada com árvores gigantes e rios também na localidade dos morros do Rio Tavares. (até hoje tenho uma cicatriz na perna direita devido um pequeno “acidente” lá ocorrido.

Sempre me intrigou a vegetação exuberante da Ilha de Santa Catarina atual Florianópolis, acreditando se tratar de vegetação primária, ou seja, que nunca foi desmatada. Por volta de uns 15 anos atrás eu estava na casa de um amigo no Rio Tavares com uma boa vista para esses morros que acabei de falar e ao ver uma mata muito bem formada perguntei, Pedro essa mata será que é de primeira geração e ele me disse claro que não isso em algum momento já foi tudo desmatado.

Fiquei comigo pensando como que já foi tudo desmatando, andei pelo Sertão do Ribeirão, do Peri do Saquinho, da Lagoinha do Leste e vários outros lugares da Ilha e nunca me pareceu que isso pudesse ter sido já derrubado em algum tempo?

Hoje formado em História pela FAED/UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina, tenho direcionado as minhas leituras para o conhecimento da nossa história política, comercial e de colonização da Ilha de Santa Catariana atual Cidade de Florianópolis capital do Estado de Santa Catarina.

Já em várias leituras anteriores o fator do desmatamento e o fornecimento de lenha e madeira para a exportação a partir de Desterro tem se tornado muito comum e começou a clarear meus conhecimentos quanto a cobertura florestal dessa ilha.

No livro o Desmatamento na Ilha de Santa Catarina a autora nos traz informações muito precisas sobre cada Bioma existente na nossa Ilha e o quanto foi destruído principalmente logo após a chegada dos colonizadores açorianos que tinham como matéria prima para praticamente todas as suas produções a lenha e também a madeira.

Segundo relatos aqui já por volta de do século XVIII, ou seja, no final dos anos 1700 já era visível que os morros haviam sido desmatados, apresentando cicatrizes que denunciavam essa atividade predatória. Somente para conhecimento por volta do século XIX tinham algo em torno de oitocentos engenhos de farinha e mais de cem engenhos ou alambiques de cachaça, bem como inúmeras Caieiras que transformavam conchas de Berbigão e Mariscos em cal para a construção de casas e também vários curtumes de peles que também usavam muita lenha.

Desde o início do século XVI, ou seja, quando o Brasil foi descoberto inúmeros navegadores por aqui passaram e todos falavam da exuberância das matas da Ilha que inclusive quando da vinda dos Açorianos foram citadas como local ideal para esconderijo de invasores, devido a densidade fechada da Floresta. Hoje fica difícil de acreditar que aqui já tivemos exemplares típicos da Mata Atlântica como Canela, Peroba e outras árvores com algo em torno de 40 metros de altura.

Centenas ou milhares de navios que por aqui passaram levaram a vegetação de nossas florestas e mangues como lenha ou madeiras de exportação praticamente de graça, quando isso não era mesmo de graça inclusive por determinação dos governos locais para atender aos pedidos dos capitães de barcos que aqui atracavam.

Comércio muito pouco e as nossas matas viravam bens de troca por qualquer coisa que pudesse ter alguma utilidade para os seus moradores, os valores pagos pelos comandantes das embarcações por milheiro de “achas” de lenha, ou pedaços de praticamente um metro cada, era irrisório.  Com isso os colonizadores que vieram para desenvolver a nossa cidade eram tão pobres que cada vez mais tinha que entrar floresta e mangues a dentro ou subir morros para conseguir lenha e madeira para comercializar com os “de fora’.

Ao falar dos desmatamentos a autora deixa clara que a pressão sobre os nossos Mangues um bioma muito frágil era enorme tendo em vista que por estarem na desembocadura de rios e serem servidos por inúmeros canais os tornavam a forma mais fácil de conseguir lenha para uso em seus engenhos e também para comercializar. O detalhe que ao destruir o Mangue automaticamente estava destruindo também toda a complexa cadeia de vida que esses verdadeiros santuários, envolvem.

Todo um apanhado sobre as tentativas de contenção ao desmatamento devido a urbanização e o crescimento da cidade foi questionado e também uns ridículos processos de reflorestamento com Pinus Eliotis e Eucalipto, espécies invasoras que são chamadas de “deserto verde’ o que não permite que nenhuma espécie sobrevida sob suas sombras  quer seja de fauna e flora e cria um solo totalmente impermeável causando diversos problemas como falta de água nos lençóis freáticos contribuindo para a mudança no ciclo das chuvas em regiões da ilha.

Vou encerrando por aqui o comentário sobre esse livro que muito me emocionou ao fazer a sua leitura, tentando imaginar o quanto de belo e diversificado deve ter sido as florestas e todos os biomas da Ilha de Santa Catarina antes de sua quase total destruição.

Sugiro à todos os que puderem ter acesso a este livro e bem como os demais a esse assunto que leiam para entender o porquê é importante hoje no início da terceira década do século XXI, preservar os nosso recursos naturais , como florestas, dunas, mangues, lagoas e nascentes de rios que nos cercam.

Grande abraços à todos.

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     07/032021.

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