28 de fevereiro de 2021

A HISTÓRIA NATURAL DA ILHA DE SANTA CATARINA

 

HISTÓRIA NATURAL DA ILHA DE SANTA CATARINA – O CÓDICE DE ANTONIO JOSÉ DE FREITAS NORONHA

Dia 12 de fevereiro de 2021, terminei a leitura do meu 4º livro do ano, de Marli Cristina Scomazzon/Jeff Franco/Daniel de Barcelos Falkenberg

 História natural da Ilha de Santa Catarina – O códice de Antonio José de Freitas Noronha/ Marli Cristina Scomazzon/Jeff Franco/Daniel de Barcelos Falkenberg. Florianópolis : Insular, 2017.  112p: il.

Este livro tem como abordagem, um levantamento gráfico sobre a flora existente na Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis realizado em 1803.

As belezas naturais da Ilha de Santa Catarina, com sua exuberância, bem como a sua diversidade, já eram conhecidas desde o século XVI quando por aqui passaram os primeiros navegadores que circundaram o globo, no período das circunavegações organizadas pelas grandes potências desse período, que viam por essas rotas grandes possibilidades de ganho e conquistas. (no texto em questão não vou fazer relação aos nomes destes navegadores todos)

Quando em 1751 o menino José de Freitas Noronha, vindo ou fugindo da fome na região  da Ilha da Madeira em Portugal, talvez ele jamais pudesse imaginar  que além de se tornar oficial militar em Desterro, capital de Província de Santa Catariana, também se tornaria um personagem da História Natural desta Ilha?

Mais de cinquenta anos depois de ter chegado em Desterro já com a patente de Capitão, José de Freitas de Noronha recebe do então Governador da Província de Santa Catarina Coronel Joaquim Xavier Curado uma tarefa ou missão para os militares não muito peculiar as suas funções, que seria de mapear e descrever ou inventariar a espécies de plantas naturais da Ilha de Santa Catarina.

No ano de 1803 o projeto de mapear as espécies de plantas principalmente frutíferas da Ilha de Santa Catarina se desenvolve e é produzido um material com desenhos e especificações conhecidas até o momento da produção, de diversas plantas tais como: Araçá, Angá (Ingá), Banana, Coco Butiá, Indaiá, Tucum, Figos, Fruta do Conde, Gabiroba, Goiabas, Jaboticaba, Maracujá, Orapronóbis, Pitangas entre outras.

Este trabalho foi realizado em 38 pranchas de desenhos em aquarelas que representavam as espécies por ele retratadas, claro eu algumas divergências surgiram depois de ser descoberto esse material de grande valor histórico para a Botânica da Ilha de Santa Catarina, que hoje conhecemos como Florianópolis.

O principal detalhe desse projeto é que ele ficou esquecido por mais de duzentos anos ou, seja por mais de dois séculos ninguém deve a oportunidade de acessar e fazer as suas considerações sobre a qualidade e divergência de sua produção. Foi um “achado” e tanto encontrar essas aquarelas totalmente preservadas conforme no livro são apresentadas.

Muitas das considerações feitas por José de Freitas Noronha realizadas no início do século XIX e usando o linguajar do Português de Portugal, bem como o do gentílico local, sobre a forma, uso e tamanho das plantas, foram comentados por Daniel de Barcelos Falkenberg, especialista em Botânica.

Mesmo com muitas divergências e também contradições, depois de classificadas e revistas de acordo com as atuais classificações de espécies da flora da Ilha e também do Brasil, o trabalho do autor mesmo que duzentos anos depois é de grande valor histórico não somente no campo da Biologia e Botânica como também da história da Ilha de Santa Catarina.

Recomendo à todos que possam ter acesso a esse valioso documento histórico de imagens das plantas que são lindas, mesmo que produzidas por um amador de forma rudimentar e que por ironia do destino ficaram esquecidas por mais de duzentos anos e que por um milagre inexplicavelmente, foram preservadas, com toda a sua exuberância e cores e detalhes. (inclusive o meu Butiá) que hoje tanto tenho estudado sobre ele e a mais de duzentos anos já foi motivo de representação nesse importante documento histórico.

Grande abraços à todos.

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     28/02/2021.





14 de fevereiro de 2021

 



A ILHA DE SANTA CATARINA E O CONTINENTE PRÓXIMO.

Dia 30 de janeiro de 2021, terminei a leitura do meu 3º livro do ano, de Olga Cruz

 A Ilha de Santa Catarina e o continente próximo – Um estudo de geomorfologia costeira/Olga Cruz.- Florianópolis

 Ed. da UFSC, 1998  xviii, 276p: il.

Este livro tem como abordagem, a formação geológica da Ilha de Santa Catarina bem como todo o seu eco sistema de praias, mangues, dunas, montanhas, rios, lagoas e também os que aqui habitam ou habitaram em outras eras.

Mesmo sendo um livro de difícil leitura para aqueles que não tem formação em Geografia e outras áreas do conhecimento voltadas à morfologia dos ambientes acima citados e também sendo fruto de um trabalho científico, muitos termos e citações exigem um pouco mais de nossa atenção. (Procurei dar uma ideia do conteúdo sem citar os termos técnicos)

Neste livro podemos ter uma melhor compreensão das características da Ilha de Santa Catarina, atual cidade de Florianópolis e o continente que a rodeia não exatamente a parte continental que também faz parte da cidade com seus Bairros que estão além da parte insular. Neste caso o continente próximo são as montanhas da Serra Geral seus Morros como o do Cambirela, os manguezais da Palhoça, São José e Biguaçu seus rios e suas praias.

Com a leitura do livro pode se verificar por exemplo que mesmo separada pelo mar a nossa Ilha tem uma interdependência com o continente, como por exemplo os morros do Cambirela e do Ribeirão fazem parte da mesma cadeia de montanhas que em eras geológicas estavam tudo ao mesmo nível.

Os mangues do Rio Tavares e Tapera estão na mesma linha que os da Palhoça, os do norte da Ilha estão na mesma linha que os de Biguaçu e Tijucas isso faz com que tudo o que é feito em um lugar afeta a outro pois quebra o equilíbrio que muitos nem tem conhecimento dessa ligação. Ao aterrarmos um mangue no Rio Tavares e na Costeira estamos danificando indiretamente o da Palhoça e visse e versa.

A Ilha de Santa Catarina ou Florianópolis depois da década de 1970 sofre um grande impacto em seus ambientes naturais devido a grande ocupação humana tanto voltada a moradia comércio e serviços bem como o turismo também faz com que vastas áreas de dunas, praias, lagoas e morros sejam modificadas para atender a demanda que se criou.

Grandes áreas de mar foram aterradas para construção de vias públicas e prédios e isso alterou desde o fluxo de chuvas a movimentos de marés, fato esse, são os constantes alagamentos e invasão de marés em áreas residenciais principalmente no sul e norte da  Ilha.

Viajantes estrangeiros ao passar por aqui durante o período das navegações observaram um ambiente completamente diferente do que hoje vivenciamos. A própria vinda dos habitantes que vieram de Portugal, mais especificamente dos Açores também foi um fator de mudanças para a geografia da cidade.

Com uma grande quantidade de gráficos e tabelas, bem como fotografias podemos ter uma visão dos índices pluviométricos médios e também das temperaturas por um grande recorte de tempo e também foram utilizados dados produzidos por fotografias aéreas de períodos distintos para pode fazer a comparação das mudanças.

A destruição das dunas por exemplo tem um grande impacto nos lençóis freáticos o que ocasiona problemas com o abastecimento de água, assim como o desmatamento também altera o fluxo dos rios e a quantidade de água disponíveis nas lagoas para consumo o que obriga a trazer de locais cada vez mais longe.

O tipo de sedimentação das nossas praias é de uma formação bem frágil o que torna muito sensível a qualquer mudança nesse ambiente. Um bom exemplo é a Praia da Armação ao sul da ilha onde muros foram construídos aonde as ondas chegavam e se espalhavam cumprindo o ciclo das marés, o que faz com que a arrebentação da onda passa a ocorrer em local muito mais distante do que viria a ser o da formação natural.

Praticamente todos os anos temos enormes problemas de desmoronamento de casas e muros por conta de marés cheias, e cada vez mais tentam conter com enormes quantidades de pedras e concreto, ato esse que atende a necessidade por muito pouco tempo pois cada vez mais as ondas vão quebrar próximo a essas estruturas.

A formação de nossas encostas também é outro assunto que deve ser levado em consideração, pois com o excesso de urbanização praticamente toda a cobertura vegetal para construção de moradias e vias de acesso, ficamos com solos muito propícios aos deslocamentos de terra e enxurradas devido à ausência de da vegetação natural.

Atualmente são constantes os avisos dos órgãos ambientais e Defesa Civil quando da previsão de fortes chuvas por um período maior e grande concentração pluviométrica, causando grandes preocupações e prevendo deslocamentos rápido caso ocorra algum acidente. Nem sempre se tem conseguido esse tempo como aconteceu agora no mês de janeiro na comunidade do Saco Grande onde uma encosta cedeu levando duas pessoas a óbito.

Concluindo o nosso meio ambiente constituído por muitos morros e os mesmos estão sendo desprovidos de sua vegetação, bem como as margens de rios, o aterro dos manguezais para finalidade econômica e residencial a retirada das dunas para comércio de areia ou construção de vias e moradias tende a chegar em um colapso em muito pouco tempo caso as autoridades não tomem providências quando ao crescimento desordenado que ocorre na cidade.

Ambientes frágeis tem que serem protegidos a qualquer custo para que não se tornem inviáveis o crescimento e o planejamento da cidade, afetando a qualidade de vida que até o momento ainda é o nosso principal produto gerando renda e bem estar, à população que por vários séculos aqui escolheram para morar.

 

Paulo Coelho – Florianópolis – SC  14/02/2021

Grande abraço à todos

 


MESSIÂNICOS & BANDOLEIROS IDENTIDADE, MEMÓRIA E APROPRIAÇÃO DA TERRA

Ontem dia 15 de novembro de 2020, terminei de ler o meu 16º livro do ano e como fiz nos demais livros que eu li vou apresentar um breve comentário sobre o mesmo.

O livro em questão é  Messiânicos & Bandoleiros Identidade, memória e apropriação da terra em um grupo remanescente do Contestado, do Sociólogo Pedro Martins editado pela Brazil Publishing, 2020.

Quando em março de 1996 eu fui ao lançamento do livro Anjos de Cara Suja do mesmo escritor, livro esse que a partir de um projeto de Mestrado em Antropologia Social narra a Saga de um grupo de Cafuzos remanescentes da Guerra do Contestado 1912-1916 não imaginava e também não me dei conta na época que em alguns momentos o livro narra parte da história de vida do escritor e da minha história também. Ambos somos migrantes filhos de agricultores que ao sair de Vidal Ramos SC que vieram para a capital do estado em busca de melhores condições de vida para seus filhos que não eram poucos.

O livro Messiânicos e Bandoleiros, nos traz a história desse grupo mesmo com alguns ingredientes a mais fruto de diversas pesquisas e visitas (incluindo moradia junto ao grupo em questão) realizadas em função de outra titulação agora de Doutorado.

Os Cafuzos que hoje estão assentados em um reserva em José Boiteux, alto vale do Itajaí no estado de Santa Catarina portanto no sul do Brasil, remanescentes da Guerra do Contestado que ocorreu entre 1912 e 1916 na divisa de Santa Catarina com o estado do Paraná, uma guerra muito violenta e totalmente desproporcional em relação ao aparato empregado pelas tropas federais, grandes empresários e mercenários contratados por uma grande empresa norte americana contra um grupo de Caboclos maltrapilhos e famintos que somente queriam garantir um pedacinho de terra para poderem plantar e criar os seus filhos.

Quando do fim da guerra muito dos Caboclos se esconderam no mato a fim de preservar as suas vidas e de seus filhos e com isso foram caçados e quando encontrados, eram assassinados como se bicho fossem.  Parte desses Caboclos sobreviveram a fome e ao extermínio, aos poucos foram se agrupando e resolvem fazer a primeira migração levando consigo basicamente a roupa do corpo e um ou outro utensílio de uso pessoal como facão, espingardas ou equipamento de uso agrícola.

Atravessando o Planalto Norte chegam em Alto Faxinal no munícipio de Ibirama no vale do Itajaí. Ficam por aproximadamente quarenta anos nesse local até que são obrigados a deixar o local devido a um projeto de Colonização que o governo de Santa Catarina fez com uma empresa colonizadora chamada Hanseática e com isso a comunidade inteira foi deslocada para o interior do Posto Indígena (PI) localizado em Ibirama SC levando a um segundo deslocamento.

Ao serem deslocados par ao interior da Reserva Indígena os mesmos Cafuzos são obrigados a servir de mão de obra compulsória para os administradores da reserva e também para os indígenas ou seja, praticamente escravos do século XX.  Essa condição se manteve por aproximadamente mais quarenta anos e o sonho da terra própria nessa altura já está próximo a oitenta anos desde a Guerra do Contestado.

Com o projeto do Pedro Martins lá na metade da década de 1980, foi dado continuação ao sonho da tão esperada “terrinha” para poder chamar de sua e criar os seus filhos. Foi feito um projeto de assentamento com a finalidade de terra uma reserva própria em virtude de suas características etnográficas e seu modo de vida próprio, o que não estava muito compatível dentro da Reserva Indígena. Muitas viagens aos órgãos federais e estaduais em Florianópolis e também até em Brasília foram realizadas para apresentar o projeto e a entrega de documentos e levantamentos etnográficos sobre esse grupo específico do sul do Brasil visando a criação de uma reserva própria.

Mais adiante Pedro teve grande auxílio em seus estudos da sua companheira que também é socióloga Tânia Welter (minha grande amiga) que também passou a estudar esse grupo obtendo informações valiosas entre as mulheres que normalmente não seriam contadas o sociólogo e vice versa.

No início da década de 1990 a tão sonhada terra passa a ter dono e um terceiro deslocamento é realizado no Alto do Rio Laeiscz no município de José Boiteux. Hoje em 2020 a comunidade já está com um número reduzido de habitantes mas ainda produzindo para sua subsistência e venda de algum excedente tem escola em seus domínios até as séries primárias e depois as crianças complementam seus estudos na sede do município.

Uma das conquistas desse grupo quando da posse da terra foi de que ela é indivisível ou seja não tem titulação para cada um dos membros e sem a titulação de uso coletivo para evitar que as futuras gerações tenham que refazer os caminhos dos seus ancestrais em busca da terra. Modo esse que sempre foi aprovado pelos mais velhos que chegaram a passar pelas dificuldades e deslocamentos forçados. Claro que alguns principalmente os mais jovens tinham interesse de que a titulação ou posse fosse de forma individualizada.

Conforme falei lá no início desse pequeno comentário de um grande projeto que aqui não é o ambiente adequado para textos muito grandes (que já acabei me excedendo) digo que me senti em parte dentro da história desse grupo pois quando o Pedro e a Tânia falam sobre modos de vida  dos Cafuzos seus hábitos de comida e costumes ligados a negócios e trocas, vejo a minha mãe falando em Bolo de Boleira para o que os de origem alemã chamam de Wafle, vejo também o meu pai contando os causos de criação de porcos e galinha para trocar por outros produtos.

Vou ficar por aqui com a promessa de trazer outros assuntos e histórias relacionadas a esse grupo que são contadas, nos dois livros que falei e também a Dissertação de Mestrado e a Tese de Doutorado da Tânia para fragmentar mais esse assunto.

Grande abraço à todos.

Florianópolis, 16 de novembro de 2020. Paulo Coelho

 


A ÚLTIMA VIAGEM DO MALTEZA S -

Dia 16 de janeiro de 2021, terminei a leitura do meu 2º livro do ano, de Valmir Guedes Júnior

 A última viagem do Malteza S – Encalhe, ameaça ecológica, burocracia e mortes.

Laguna: Ed. do autor, 2010 160p: il.

Este livro tem como abordagem o “naufrágio” se é que se pode falar no sentido amplo da palavra do navio cargueiro Malteza S de nacionalidade Grega em 26 de maio de 1979 na Praia do Gi na cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina.

Quando no dia 23 de maio de 1979 o cargueiro Malteza S de nacionalidade grega com mais de 25 anos de idade e 160 metros de comprimento, deixou o porto de Rosário na Argentina com uma carga de pouco mais de 8000 (oito mil) toneladas de milho com destino a Holanda, a pacata cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina não podia imaginar que seria palco de um incidente internacional.

Todos que tem cinquenta anos ou mais aqui de SC devem se lembrar das manchetes dos jornais e também matérias de televisão sobre o encalhe desse navio, notícia que chegou até ao Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.

O encalhe do Malteza S deixou as autoridades do meio ambiente extremamente preocupadas devido à grande quantidade de óleo que ele tinha em seus tanques, somente para se ter uma ideia um tipo de óleo chamado “heavy Fuel Oil” tinha 348 toneladas, de óleo diesel 58,5 toneladas e de óleo lubrificante 30.840 litros.

 A grande preocupação era que essa grande quantidade de óleo viesse a vazar no mar causando um acidente ecológico de grandes proporções ao litoral de belas praias de Laguna e bem como em todo o sul do Brasil. Com isso o Governo do Estado de Santa Catarina através da FATMA então entidade estatal relacionada ao meio ambiente se prontifica a custear a delicada operação de retirada do óleo dos tanques do navio encalhado.

Com o encalhe depois de muito trabalho e negociação entre as autoridades brasileiras e os representantes das seguradoras com o comandante da embarcação que se recusava a permitir vistorias internas alegando leis de direito marítimo internacional, é que se pode ter noção do quanto sucateada e mau cuidada estava a mesma depois de 25 anos navegando por todos os oceanos e mares do mundo.

Revendo documentos da época e também os que foram se juntando aos intermináveis processos jurídicos relacionados ao naufrágio por mais de trinta anos, o autor consegue nos passar as reais causas da recusa do comandante em não permitir o acesso das autoridades ao navio.

Analisando documentos e inquéritos promovidos pela Marinha do Brasil, chegou se a conclusão que não foi acidente e sim um ato de sabotagem para que os proprietários e seus procurados viessem a receber o seguro que no caso da carga era de 1,2 milhão de dólares para a carga de milho e de 25 milhões de dólares pelo casco do navio que já era uma verdadeira sucata.

Várias mortes ocorreram logo após o encalhe nas águas de Laguna, sendo principalmente de pessoas envolvidas com o resgate como no caso de um grupo de quatro mergulhadores que ao entrar nos porões onde estavam estocadas, milhares de toneladas de milho vieram a óbito devido a intoxicação por gases tóxicos provenientes do milho fermentado devido a água ter entrado em seus porões.

Tem também o caso de um pequeno avião que ao fazer um voou rasante se choca com cabos de aço que haviam sido instalados para servir de tirolesa no transporte de produtos do navio para a terra e também levar objetos para o navio. Nesse acidente duas pessoas vieram a óbito.

Os tripulantes depois de alguns dias vieram para a cidade de Laguna, onde foram alocados em hotéis até que sua situação fosse resolvida para poderem retornar aos seus países de origem, que nesse caso eram de várias nacionalidades.

Algum tempo depois do encalhe e também da negativa do comandante do navio em não permitir que as equipes de resgate conseguissem rebocar o navio o que chegou a ser tentado por um rebocador da Marinha do Brasil que foi deslocado de Itajaí para Laguna com essa finalidade, o navio começa a fazer dragado por pelas ondas e também pela areia.

Alguns equipamentos e parte da carga de milho e óleo ainda puderam ser resgatados e foram vendidos através de leilões para minimizar os custos da operação, mas o maior custo ficou mesmo com o Governo de Santa Catarina que não mediu esforços para tentar evitar um desastre ambiental e pelo jeito tiveram um certo sucesso.

Hoje mais de quatro décadas do encalhe ainda se pode ver nas águas da Praia do Gi em Laguna os restos desse navio que estão praticamente soterrados e corroídos pela ação do mar e do próprio tempo.

Deixo aqui como sugestão de leitura esse livro, aos que gostam de assuntos regionais e informo que o mesmo tem várias fotos da época sobre o navio e a operação de resgate e também vários fac símiles de documentos oficiais coletados ao longo de muitas pesquisas.

Paulo Coelho – Florianópolis – SC – 13/02/2021

 


A CAMINHO DO OURO – NORTE AMERICANOS NA ILHA DE SANTA CATARINA

Ontem dia 26 de dezembro de 2020, terminei a leitura do meu 20º livro do ano.

A Caminho do Ouro – Norte Americanos na Ilha de Santa Catarina, edição de 2015 Editora Insular 160p. Autores:  Marli Cristina Scomazzon & Jeff Franco,  ambos jornalistas.

Quem acompanhou as resenhas dos livros lidos nesse ano aqui publicadas pode ver que eu procurei dar uma atenção maior aos textos produzidos sobre a História da Ilha de Santa Catarina (principalmente os livros de Oswaldo Rodrigues Cabral) que mais tarde tornou se Desterro e atualmente é Florianópolis a capital do Estado de Santa Catarina.

O tema desse livro confesso que por mais que eu já tenha lido sobre a cidade me trouxe um tema completamente novo e desconhecido mesmo eu tendo toda curiosidade em pesquisar sobre a História local. A Caminho do Ouro relata a loucura que foi a busca pelo ouro na Califórnia recentemente anexada aos Estados Unidos na guerra contra o México.

Durante os anos de 1848 a 1856 milhares de pessoas se deslocaram para a Califórnia em busca do Ouro recém descoberto e a cobiça fez com que pessoas de todas as classes sociais que possa se imaginar venderam tudo para montar sociedades mineradoras e comprar barcos a qualquer preço e montar uma expedição para o novo Eldorado.

Nesse período as duas costas americanas, ou seja, Leste e Oeste ainda não se comunicavam diretamente e isso fez com que milhares de barcos, saíssem da Costa Leste e descendo o Oceano Atlântico em uma viagem de quase 30 mil quilômetros praticamente três quartos de uma volta a terra para atravessar o temível Cabo Horn na parte mais sul do planeta para pegar o Oceano Pacífico via Valparaíso no Chile e chegar ao Porto de São Francisco na Costa Oeste.

Como Desterro tinha um dos melhores Portos do Sul do Continente americano, com boa água, madeira de fácil acesso e a preços bem mais módicos em ralação aos outros portos principalmente as taxas alfandegárias e a fácil liberação também influíam, para ser Desterro praticamente a última parada para encarar as águas do Pacífico. Alguns barcos chegavam a Desterro em condições tão ruins que ouve caso de barcos que tiveram que ser vendidos em leilão para desmonte porque não tinha mais condições de navegação.

O fluxo migratório foi muito intenso e também um dos mais documentados da história da humanidade, tendo em vista que a viagem era muito longa e os passageiros como não tinham muita coisa a fazer a bordo mantinham por hábito escrever tudo o que ocorria a bordo em seus diários e muitos desses foram recuperados e se encontram e arquivos americanos.

Nesse período São Francisco tinha 459 habitantes enquanto Desterro na parte insular aproximadamente seis mil habitantes e algo em torno de nove mil contando com a área continental e vejam que loucura aconteceu aqui que em um determinado ano chegou a receber perto de setecentos barcos com destino a Califórnia tendo em um único dia sido contado doze barcos atracados nos nossos portos levando em conta Santa Cruz atual Ilha de Anhato Mirim e Desterro propriamente dita.

Toda a rotina da pacata Desterro foi alterada, tendo em vista que chegou a receber 600 americanos que desciam de seus barcos para terra firme no aguardo de reparos e reabastecimento para a viagem que tinham que encarar ainda. Brigas, bebedeiras e arruaças de todos os tipos passaram a ser comuns na cidade dando grande dor de cabeça as autoridades locais inclusive criando editas próprios para os americanos inclusive limitação do número de passageiros que podia deixar o barco de cada vez na maioria 8 pessoas, mas isso não deu muito certo também.

Como não é muito diferente hoje a corrupção de agentes públicos já existia o que fazia que houvesse muito dinheiro entregue por baixo dos panos para liberar a saída ou mesmo comercialização diretamente no barco através de pequenas canoas. O fluxo foi tão intenso que nesse período e até muitos anos depois Desterro tinha um Consulado Americano, claro que os Consulados daquela época eram um pouco diferentes dos atuais, mas não deixava de ser um cargo de destaque.

Aos Consulados cabiam a cobrança de taxas alfandegárias pagas pelos navios que se dirigiam à Califórnia, a manutenção da ordem entre os americanos e até expedir mandados de prisão aos marinheiros desertores de seus barcos.

Vários foram os americanos que ao desertarem optaram por não seguirem viagem e ficando como moradores de Desterro, assim como outros que também trocavam de barco por propostas e ou condições melhores de trabalho.

O cotidiano de Desterro foi profundamente alterado, mas uma das coisas que os americanos mais comentavam era a hospitalidade dos locais, que na maioria das vezes cediam suas residências a preços muito baixos (quando cobravam) para descanso, asseio e refeições. Acredito que esse jeito hospitaleiro de ser ainda se reflete nos dias atuais, tendo em vista o grande número de pessoas que anualmente migram para Florianópolis.

Muito mais informações como religiosidade, escravidão, comércio, política local são tratadas e que merecem nossa atenção.

Vou ficando por aqui e recomendo aos que gostem de história local que procurem e leiam esse livro. Grande abraço à todos.

Paulo Coelho, Florianópolis, SC  -   27/12/2020.

 

O SOLITÁRIO DAS GALÉS


Acabo de ler o meu 18º livro do ano e este ano tem sido diferente em tudo até eu ter voltado a ler com mais frequência hábito esse que desde muito cedo eu procuro praticar.

No livro O Solitário das Galés do Jornalista Raul Caldas Filho, editado em 2006, pela Editora Insular, livro esse que é uma coletânea de diversas entrevistas que o autor fez ao longo de mais de 40 anos de Jornalismo, podemos acompanhar um pouco da história de Santa Catarina e principalmente a história de Florianópolis.

Logo na primeira matéria que por sinal dá nome ao livro O Solitário das Galés, nos é apresentado o senhor Braz João da Silva, que na época da entrevista ele já contava com 62 anos e morando sozinho ao estilo de Robson Crusoé personagem de Daniel Defoe que como náufrago vive longos anos perdido em uma ilha.

Já seu Braz resolve sair da urbanidade de uma vila da cidade de Porto Belo para viver isolado na Ilha das Galés uma pequena ilha sem praia de frente para a Baia de Porto Belo e por lá vive longos anos em seu auto exílio, sobrevivendo de tudo que planta, pesca e colhe. Pode parecer romântico a primeira vista, mas não deve ser fácil dia após dia manter se isolado de tudo e de todos.

Muitos causos são  contados sobre acontecimentos e visitas na ilha, o que não dá para comentar tudo nesse pequeno texto, mas de muita sabedoria para uma pessoa de hábitos e gestos tão simples.

Nas outras entrevistas publicadas nesse livro o autor nos brinda com fatos importantes da história política, cultural, urbanística do Estado e principalmente de Florianópolis. A eterna rivalidade do PSD e UDN, as oligarquias das família Ramos e Bornhausen, os indicados políticos pelo governo militar para ocupar cargos como o de Prefeito da Capital como Esperidião Amim.

Entre os diversos assuntos abordados nas diversas entrevistas publicadas em sua maioria no antigo Jornal O Estado muito me chamou a atenção as pesquisas Arqueológicas do Padre João Alfredo Rohr sobre os primeiros habitantes de Santa Catarina isso ocorrido comprovadamente a milhares de anos. Muitos materiais de valor histórico inestimável foram recolhidos por ele em suas pesquisas nos sítios arqueológicos principalmente Sambaquís pesquisados em Florianópolis e Laguna, local esse que tem apesar de toda a depredação e utilização como material de construção o maior sambaqui do mundo.

Com a chegada do Rádio nos anos cinquenta o jornalismo de Santa Catarina passa a viver um novo momento e principalmente com a Radio Diário da Manhã que em seus momentos áureos chegou a ter mais de cem funcionários e inclusive quatro orquestras para os seus programas de auditório.

 Muitos Jornalistas de renome passaram pelas diversas rádios de Florianópolis e eu vou destacar aqui os irmãos Walter e Adolfo Zigelle, ambos vindos de Joaçaba para trabalhar em Florianópolis a pedido do Ex Governador Jorge Lacerda. Adolfo Zigelle diz que ou confessa que fez um pouco de pressão sensacionalista para que Florianópolis tivesse uma segunda ponte, já que na época ainda a única ligação da ilha com o Continente era a Ponte Hercílio Luz.

A vida social da cidade  era efervescente e os encontros ocorriam principalmente nos bares e botequins que com o tempo foram perdendo espaço para as lanchonetes de Fast Food, bares como o Miramar, o Katicips bar esse que funcionou por mais de sessenta anos e também o Petit que o autor chamou de o último botequim. Não sei se é inerente a profissão de jornalista frequentar bares e butecos, mas muitas pautas e notícias de primeira mão com certeza foram criadas e dadas nas mesas dos bares de Florianópolis.

Outro assunto muito interessante também foi a chegada do carnaval como conhecemos hoje com as escolas de samba e as antigas Grandes Sociedades que faziam os carros de mutação, atividade essa que o meu sogro o Senhor Elpídio de Souza Lopes, falecido esse ano aos 92 anos tanto se orgulhava de ter participado na confecção de carros de carnaval na Tenentes do Diabo e também na Sociedade Carnavalesca  Limoeiro.

Com a criação das Escolas de Samba Florianópolis passa a ser destaque nacional em matéria de carnaval e que segundo Adolfo Zigelli fazia questão de sempre registrar que o carnaval daqui somente deixava a desejar para o de Salvador e o do Rio de Janeiro. Inclusive o músico Luiz Henrique Rosa trouxe para acompanhar o carnaval de Florianópolis no final da década de 1970 a cantora Liza Minelli.

Muito teria o que falar sobre as desavenças polítcas, as empresas comerciais a chegada da televisão a urbanização desenfreada da cidade o progresso ou se é isso que ainda da para dizer com a construção da segunda e da terceira ponte pois a partir daí a especulação imobiliária tomou conta da cidade.

Acredito que a criação da UFSC ou seja, a Universidade Federal de Santa Catarina e a vinda da ELETROSUL para Florianópolis tenham sido os dois principais motivadores para o crescimento da cidade, mesmo sendo uma cidade administrativa passa a ser também uma cidade de comércio forte e grandes eventos.

Aos que se interessaram pelo assunto sugiro a leitura desse livro que tem uma boa dinâmica de leitura pois pode ser lido por assuntos de maior ou menor interesse pessoal já que cada entrevista é um capitulo a parte.

Grande abraço à todos.

Paulo Coelho, Florianópolis,  12 de dezembro de 2020.

 

NÁUFRAGOS, TRAFICANTES E DEGREDADOS

Ontem dia 27 de novembro de 2020, terminei a leitura do meu 17º livro do ano, de Eduardo Bueno   Náufragos, Traficantes e Degredados – As Primeiras Expedições ao Brasil.

Editora Objetiva Coleção Terra Brasilis Volume II ano 1998.

Este livro tem uma abordagem muito interessante por tratar de um período muito pouco conhecido da nossa história que foram as primeiras três décadas seguintes ao “descobrimento” do Brasil. Haja visto que temos relatos de missão espanhola antes da chegada de Cabral ao nordeste brasileiro.

Quando os Europeus aqui chegaram encontraram habitantes um povo guerreiro na maior parte dos locais que atracavam, em algumas tribos ou nações indígenas tinham o hábito da antropofagia ou sejam comiam suas vítimas e não foram poucos os europeus que em algum descuido foram servidos como “almoço ou janta” aos membros das aldeias. Porém também encontraram muitos indígenas ingênuos que acreditavam que aqueles homens os iriam levar para a chamada “Terra de Promissão” e com isso trabalhavam incansavelmente para os europeus.

 Nesse período tudo o que não poderia aconteceu ao nosso recém descoberto país e realmente ficou por muito tempo no esquecimento, servindo somente para pilhagem entre Portugal, Espanha. E tendo a servido de local para degredar pessoas que por algum motivo cometiam algum crime contra a coroa ou seus procuradores.  Inclusive um arrendamento (aluguel) de todo o imenso território foi cedido para procuradores de Banqueiros Florentinos, o que me fez lembrar uma música do nosso grande Raul Seixas que se chama ALUGA-SE que fala em alugar o Brasil e em um belo texto diz o seguinte:

Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá pra alugar ah ah ah ah

Os estrangeiros eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico tem vista pro mar
A Amazônia é o jardim do quintal
E o dólar dele paga o nosso mingau”.

Nesse período, início do século XVI as grandes nações Portugal e Espanha estavam com seus interesses focados nas especiarias das Índias e sendo assim pouco interessava até então as terras recém descobertas. Com o arrendamento que Dom Manuel rei de Portugal  fez, com um cidadão chamado de Fernão de Loronha que depois passou a ser chamado de Fernando de Noronha o mesmo do nome da ilha hoje pertencente ao estado de Pernambuco, o rei recebia quatro mil Ducados anualmente detalhe pelo preço do Pau Brasil uma riqueza enorme e abundante no enorme território brasileiro bastava dois navios carregados com a madeira para pagar todo o arrendamento.

A escravidão dos indígenas também se tornou uma enorme fonte de receita aos traficantes europeus que os levavam para trabalhos na américa central e futuramente no próprio território para o corte e transporte de Pau Brasil e seu transporte até os locais de embarque.

Durante um século esse sistema de arrendamento e outras pilhagens fizeram com que mais de dois milhões de arvores de Pau Brasil foram cortadas e contrabandeadas para o continente europeu, aonde seriam enviadas para a Holanda para serem processadas em um processo de corte e raspagem por prisioneiros para transformar em pó que seria usado como corante na indústria têxtil principalmente a francesa.

Nesse período foram instaladas as primeiras Feitorias ou locais habitados e fortificados, que mantinham pessoas responsáveis por dar todo o suporte aos navegantes que aqui chegavam em nome do Rei de Portugal normalmente para carregar produtos para o reino e nessas Feitorias também eram deixados prisioneiros degredados para trabalhos forçados.

O Brasil também se tornou o principal roteiro para a conquista de outros territórios, devido a facilidade de aqui chegar proveniente da costa africana e descer em direção ao Rio da Prata. Começavam pelo Cabo de Santo Agostinho, depois se dirigiam ao atual Rio de Janeiro depois Cananéia e posteriormente São Francisco do Sul e Porto dos Patos no entorno da Ilha de Santa Catarina atual Florianópolis.

Interessante ressaltar que o Porto dos Patos (tem esse nome em devido aos habitantes locais os Índios Carijó) foi um porto que raramente foi mencionado em outros livros e ficava na desembocadura do Rio Massiambu, (atual Morro dos Cavalos na Palhoça) e era o principal local de abastecimento de navios que tinham como destino o Rio da Prata e posteriormente a passagem sul para chegar ao Pacífico.

Foi a partir do Porto dos Patos que saiu uma das mais incríveis jornadas já registradas na história do continente sul americano que foi a Epopeia de Aleixo Garcia um dos onze sobreviventes de um naufrágio ocorrido em 1523 na hoje Praia dos Naufragados em Florianópolis, que passou a conviver com os Índios Carijó e ouvindo as lendas de um povo que tinha um Imperador Branco em um lugar em que as montanhas eram cobertas de neve sempre e era um lugar de muita riqueza de ouro e prata.

Aleixo Garcia formou um exército de dois mil homens (Guerreiros Carijó) e se dirigiu em direção a Cananeia hoje no estado de SP para de lá seguir por um caminho chamado de Piabirú até os Andes onde vivia esse povo de tamanha riqueza, e realmente quase dois mil quilômetros depois chegaram e promoveram um ataque não muito bem sucedido, mas mesmo assim um bom número conseguiu voltar para contar a história e trazendo alguns objetos de ouro e prata. Isso fez com que uma nova corrida para conquistar esse reino fosse aberta.

Esse livro é bem denso em informações dos primórdios do nosso país, mostra o total descaso de sua formação social e político administrativa e talvez representa um pouco do que ainda somos hoje, demonstrando o quanto o capital internacional foi e é um divisor de águas em nosso desenvolvimento, traz informações muito importantes sobre o financiamento das diversas empreitadas envolvidas nas navegações durante a descoberta do novo mundo.

Personagens que nos foram apresentados nos livros escolares como Américo Vespúcio, Vasco da Gama, Pedro Alvares Cabral e muitos outros tem suas viagens aqui relatadas, mas por questão de local e espaço preferi não mencionar. Sugiro a leitura desse e dos demais livros que compõem essa coleção que no início do texto eu mencionei, e na medida do possível vou procurar divulgar alguns  dados por aqui.

Florianópolis, 28 de novembro de 2020.

Grande abraço à todos – Paulo Coelho