A ÚLTIMA VIAGEM DO MALTEZA S -
Dia 16 de janeiro de 2021,
terminei a leitura do meu 2º livro do ano, de Valmir Guedes Júnior
A última viagem do Malteza S – Encalhe, ameaça
ecológica, burocracia e mortes.
Laguna: Ed. do autor, 2010 160p:
il.
Este livro tem como abordagem o
“naufrágio” se é que se pode falar no sentido amplo da palavra do navio
cargueiro Malteza S de nacionalidade Grega em 26 de maio de 1979 na Praia do Gi
na cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina.
Quando no dia 23 de maio de 1979 o
cargueiro Malteza S de nacionalidade grega com mais de 25 anos de idade e 160
metros de comprimento, deixou o porto de Rosário na Argentina com uma carga de
pouco mais de 8000 (oito mil) toneladas de milho com destino a Holanda, a
pacata cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina não podia imaginar que seria
palco de um incidente internacional.
Todos que tem cinquenta anos ou mais
aqui de SC devem se lembrar das manchetes dos jornais e também matérias de
televisão sobre o encalhe desse navio, notícia que chegou até ao Jornal Nacional
da Rede Globo de Televisão.
O encalhe do Malteza S deixou as
autoridades do meio ambiente extremamente preocupadas devido à grande
quantidade de óleo que ele tinha em seus tanques, somente para se ter uma ideia
um tipo de óleo chamado “heavy Fuel Oil” tinha 348 toneladas, de óleo diesel
58,5 toneladas e de óleo lubrificante 30.840 litros.
A grande preocupação era que essa grande
quantidade de óleo viesse a vazar no mar causando um acidente ecológico de
grandes proporções ao litoral de belas praias de Laguna e bem como em todo o
sul do Brasil. Com isso o Governo do Estado de Santa Catarina através da FATMA
então entidade estatal relacionada ao meio ambiente se prontifica a custear a
delicada operação de retirada do óleo dos tanques do navio encalhado.
Com o encalhe depois de muito
trabalho e negociação entre as autoridades brasileiras e os representantes das
seguradoras com o comandante da embarcação que se recusava a permitir vistorias
internas alegando leis de direito marítimo internacional, é que se pode ter
noção do quanto sucateada e mau cuidada estava a mesma depois de 25 anos
navegando por todos os oceanos e mares do mundo.
Revendo documentos da época e também
os que foram se juntando aos intermináveis processos jurídicos relacionados ao
naufrágio por mais de trinta anos, o autor consegue nos passar as reais causas
da recusa do comandante em não permitir o acesso das autoridades ao navio.
Analisando documentos e inquéritos promovidos pela
Marinha do Brasil, chegou se a conclusão que não foi acidente e sim um ato de
sabotagem para que os proprietários e seus procurados viessem a receber o
seguro que no caso da carga era de 1,2 milhão de dólares para a carga de milho
e de 25 milhões de dólares pelo casco do navio que já era uma verdadeira sucata.
Várias mortes ocorreram logo após o encalhe nas
águas de Laguna, sendo principalmente de pessoas envolvidas com o resgate como
no caso de um grupo de quatro mergulhadores que ao entrar nos porões onde
estavam estocadas, milhares de toneladas de milho vieram a óbito devido a
intoxicação por gases tóxicos provenientes do milho fermentado devido a água
ter entrado em seus porões.
Tem também o caso de um pequeno avião que ao fazer
um voou rasante se choca com cabos de aço que haviam sido instalados para servir
de tirolesa no transporte de produtos do navio para a terra e também levar
objetos para o navio. Nesse acidente duas pessoas vieram a óbito.
Os tripulantes depois de alguns dias vieram para a
cidade de Laguna, onde foram alocados em hotéis até que sua situação fosse
resolvida para poderem retornar aos seus países de origem, que nesse caso eram
de várias nacionalidades.
Algum tempo depois do encalhe e também da negativa
do comandante do navio em não permitir que as equipes de resgate conseguissem
rebocar o navio o que chegou a ser tentado por um rebocador da Marinha do
Brasil que foi deslocado de Itajaí para Laguna com essa finalidade, o navio
começa a fazer dragado por pelas ondas e também pela areia.
Alguns equipamentos e parte da carga de milho e
óleo ainda puderam ser resgatados e foram vendidos através de leilões para
minimizar os custos da operação, mas o maior custo ficou mesmo com o Governo de
Santa Catarina que não mediu esforços para tentar evitar um desastre ambiental
e pelo jeito tiveram um certo sucesso.
Hoje mais de quatro décadas do encalhe ainda se
pode ver nas águas da Praia do Gi em Laguna os restos desse navio que estão
praticamente soterrados e corroídos pela ação do mar e do próprio tempo.
Deixo aqui como sugestão de leitura esse livro, aos
que gostam de assuntos regionais e informo que o mesmo tem várias fotos da
época sobre o navio e a operação de resgate e também vários fac símiles de
documentos oficiais coletados ao longo de muitas pesquisas.
Paulo Coelho – Florianópolis – SC – 13/02/2021
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