14 de fevereiro de 2021

 


A ÚLTIMA VIAGEM DO MALTEZA S -

Dia 16 de janeiro de 2021, terminei a leitura do meu 2º livro do ano, de Valmir Guedes Júnior

 A última viagem do Malteza S – Encalhe, ameaça ecológica, burocracia e mortes.

Laguna: Ed. do autor, 2010 160p: il.

Este livro tem como abordagem o “naufrágio” se é que se pode falar no sentido amplo da palavra do navio cargueiro Malteza S de nacionalidade Grega em 26 de maio de 1979 na Praia do Gi na cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina.

Quando no dia 23 de maio de 1979 o cargueiro Malteza S de nacionalidade grega com mais de 25 anos de idade e 160 metros de comprimento, deixou o porto de Rosário na Argentina com uma carga de pouco mais de 8000 (oito mil) toneladas de milho com destino a Holanda, a pacata cidade de Laguna ao sul de Santa Catarina não podia imaginar que seria palco de um incidente internacional.

Todos que tem cinquenta anos ou mais aqui de SC devem se lembrar das manchetes dos jornais e também matérias de televisão sobre o encalhe desse navio, notícia que chegou até ao Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.

O encalhe do Malteza S deixou as autoridades do meio ambiente extremamente preocupadas devido à grande quantidade de óleo que ele tinha em seus tanques, somente para se ter uma ideia um tipo de óleo chamado “heavy Fuel Oil” tinha 348 toneladas, de óleo diesel 58,5 toneladas e de óleo lubrificante 30.840 litros.

 A grande preocupação era que essa grande quantidade de óleo viesse a vazar no mar causando um acidente ecológico de grandes proporções ao litoral de belas praias de Laguna e bem como em todo o sul do Brasil. Com isso o Governo do Estado de Santa Catarina através da FATMA então entidade estatal relacionada ao meio ambiente se prontifica a custear a delicada operação de retirada do óleo dos tanques do navio encalhado.

Com o encalhe depois de muito trabalho e negociação entre as autoridades brasileiras e os representantes das seguradoras com o comandante da embarcação que se recusava a permitir vistorias internas alegando leis de direito marítimo internacional, é que se pode ter noção do quanto sucateada e mau cuidada estava a mesma depois de 25 anos navegando por todos os oceanos e mares do mundo.

Revendo documentos da época e também os que foram se juntando aos intermináveis processos jurídicos relacionados ao naufrágio por mais de trinta anos, o autor consegue nos passar as reais causas da recusa do comandante em não permitir o acesso das autoridades ao navio.

Analisando documentos e inquéritos promovidos pela Marinha do Brasil, chegou se a conclusão que não foi acidente e sim um ato de sabotagem para que os proprietários e seus procurados viessem a receber o seguro que no caso da carga era de 1,2 milhão de dólares para a carga de milho e de 25 milhões de dólares pelo casco do navio que já era uma verdadeira sucata.

Várias mortes ocorreram logo após o encalhe nas águas de Laguna, sendo principalmente de pessoas envolvidas com o resgate como no caso de um grupo de quatro mergulhadores que ao entrar nos porões onde estavam estocadas, milhares de toneladas de milho vieram a óbito devido a intoxicação por gases tóxicos provenientes do milho fermentado devido a água ter entrado em seus porões.

Tem também o caso de um pequeno avião que ao fazer um voou rasante se choca com cabos de aço que haviam sido instalados para servir de tirolesa no transporte de produtos do navio para a terra e também levar objetos para o navio. Nesse acidente duas pessoas vieram a óbito.

Os tripulantes depois de alguns dias vieram para a cidade de Laguna, onde foram alocados em hotéis até que sua situação fosse resolvida para poderem retornar aos seus países de origem, que nesse caso eram de várias nacionalidades.

Algum tempo depois do encalhe e também da negativa do comandante do navio em não permitir que as equipes de resgate conseguissem rebocar o navio o que chegou a ser tentado por um rebocador da Marinha do Brasil que foi deslocado de Itajaí para Laguna com essa finalidade, o navio começa a fazer dragado por pelas ondas e também pela areia.

Alguns equipamentos e parte da carga de milho e óleo ainda puderam ser resgatados e foram vendidos através de leilões para minimizar os custos da operação, mas o maior custo ficou mesmo com o Governo de Santa Catarina que não mediu esforços para tentar evitar um desastre ambiental e pelo jeito tiveram um certo sucesso.

Hoje mais de quatro décadas do encalhe ainda se pode ver nas águas da Praia do Gi em Laguna os restos desse navio que estão praticamente soterrados e corroídos pela ação do mar e do próprio tempo.

Deixo aqui como sugestão de leitura esse livro, aos que gostam de assuntos regionais e informo que o mesmo tem várias fotos da época sobre o navio e a operação de resgate e também vários fac símiles de documentos oficiais coletados ao longo de muitas pesquisas.

Paulo Coelho – Florianópolis – SC – 13/02/2021

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