14 de fevereiro de 2021

 


A CAMINHO DO OURO – NORTE AMERICANOS NA ILHA DE SANTA CATARINA

Ontem dia 26 de dezembro de 2020, terminei a leitura do meu 20º livro do ano.

A Caminho do Ouro – Norte Americanos na Ilha de Santa Catarina, edição de 2015 Editora Insular 160p. Autores:  Marli Cristina Scomazzon & Jeff Franco,  ambos jornalistas.

Quem acompanhou as resenhas dos livros lidos nesse ano aqui publicadas pode ver que eu procurei dar uma atenção maior aos textos produzidos sobre a História da Ilha de Santa Catarina (principalmente os livros de Oswaldo Rodrigues Cabral) que mais tarde tornou se Desterro e atualmente é Florianópolis a capital do Estado de Santa Catarina.

O tema desse livro confesso que por mais que eu já tenha lido sobre a cidade me trouxe um tema completamente novo e desconhecido mesmo eu tendo toda curiosidade em pesquisar sobre a História local. A Caminho do Ouro relata a loucura que foi a busca pelo ouro na Califórnia recentemente anexada aos Estados Unidos na guerra contra o México.

Durante os anos de 1848 a 1856 milhares de pessoas se deslocaram para a Califórnia em busca do Ouro recém descoberto e a cobiça fez com que pessoas de todas as classes sociais que possa se imaginar venderam tudo para montar sociedades mineradoras e comprar barcos a qualquer preço e montar uma expedição para o novo Eldorado.

Nesse período as duas costas americanas, ou seja, Leste e Oeste ainda não se comunicavam diretamente e isso fez com que milhares de barcos, saíssem da Costa Leste e descendo o Oceano Atlântico em uma viagem de quase 30 mil quilômetros praticamente três quartos de uma volta a terra para atravessar o temível Cabo Horn na parte mais sul do planeta para pegar o Oceano Pacífico via Valparaíso no Chile e chegar ao Porto de São Francisco na Costa Oeste.

Como Desterro tinha um dos melhores Portos do Sul do Continente americano, com boa água, madeira de fácil acesso e a preços bem mais módicos em ralação aos outros portos principalmente as taxas alfandegárias e a fácil liberação também influíam, para ser Desterro praticamente a última parada para encarar as águas do Pacífico. Alguns barcos chegavam a Desterro em condições tão ruins que ouve caso de barcos que tiveram que ser vendidos em leilão para desmonte porque não tinha mais condições de navegação.

O fluxo migratório foi muito intenso e também um dos mais documentados da história da humanidade, tendo em vista que a viagem era muito longa e os passageiros como não tinham muita coisa a fazer a bordo mantinham por hábito escrever tudo o que ocorria a bordo em seus diários e muitos desses foram recuperados e se encontram e arquivos americanos.

Nesse período São Francisco tinha 459 habitantes enquanto Desterro na parte insular aproximadamente seis mil habitantes e algo em torno de nove mil contando com a área continental e vejam que loucura aconteceu aqui que em um determinado ano chegou a receber perto de setecentos barcos com destino a Califórnia tendo em um único dia sido contado doze barcos atracados nos nossos portos levando em conta Santa Cruz atual Ilha de Anhato Mirim e Desterro propriamente dita.

Toda a rotina da pacata Desterro foi alterada, tendo em vista que chegou a receber 600 americanos que desciam de seus barcos para terra firme no aguardo de reparos e reabastecimento para a viagem que tinham que encarar ainda. Brigas, bebedeiras e arruaças de todos os tipos passaram a ser comuns na cidade dando grande dor de cabeça as autoridades locais inclusive criando editas próprios para os americanos inclusive limitação do número de passageiros que podia deixar o barco de cada vez na maioria 8 pessoas, mas isso não deu muito certo também.

Como não é muito diferente hoje a corrupção de agentes públicos já existia o que fazia que houvesse muito dinheiro entregue por baixo dos panos para liberar a saída ou mesmo comercialização diretamente no barco através de pequenas canoas. O fluxo foi tão intenso que nesse período e até muitos anos depois Desterro tinha um Consulado Americano, claro que os Consulados daquela época eram um pouco diferentes dos atuais, mas não deixava de ser um cargo de destaque.

Aos Consulados cabiam a cobrança de taxas alfandegárias pagas pelos navios que se dirigiam à Califórnia, a manutenção da ordem entre os americanos e até expedir mandados de prisão aos marinheiros desertores de seus barcos.

Vários foram os americanos que ao desertarem optaram por não seguirem viagem e ficando como moradores de Desterro, assim como outros que também trocavam de barco por propostas e ou condições melhores de trabalho.

O cotidiano de Desterro foi profundamente alterado, mas uma das coisas que os americanos mais comentavam era a hospitalidade dos locais, que na maioria das vezes cediam suas residências a preços muito baixos (quando cobravam) para descanso, asseio e refeições. Acredito que esse jeito hospitaleiro de ser ainda se reflete nos dias atuais, tendo em vista o grande número de pessoas que anualmente migram para Florianópolis.

Muito mais informações como religiosidade, escravidão, comércio, política local são tratadas e que merecem nossa atenção.

Vou ficando por aqui e recomendo aos que gostem de história local que procurem e leiam esse livro. Grande abraço à todos.

Paulo Coelho, Florianópolis, SC  -   27/12/2020.

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