14 de fevereiro de 2021

 

NÁUFRAGOS, TRAFICANTES E DEGREDADOS

Ontem dia 27 de novembro de 2020, terminei a leitura do meu 17º livro do ano, de Eduardo Bueno   Náufragos, Traficantes e Degredados – As Primeiras Expedições ao Brasil.

Editora Objetiva Coleção Terra Brasilis Volume II ano 1998.

Este livro tem uma abordagem muito interessante por tratar de um período muito pouco conhecido da nossa história que foram as primeiras três décadas seguintes ao “descobrimento” do Brasil. Haja visto que temos relatos de missão espanhola antes da chegada de Cabral ao nordeste brasileiro.

Quando os Europeus aqui chegaram encontraram habitantes um povo guerreiro na maior parte dos locais que atracavam, em algumas tribos ou nações indígenas tinham o hábito da antropofagia ou sejam comiam suas vítimas e não foram poucos os europeus que em algum descuido foram servidos como “almoço ou janta” aos membros das aldeias. Porém também encontraram muitos indígenas ingênuos que acreditavam que aqueles homens os iriam levar para a chamada “Terra de Promissão” e com isso trabalhavam incansavelmente para os europeus.

 Nesse período tudo o que não poderia aconteceu ao nosso recém descoberto país e realmente ficou por muito tempo no esquecimento, servindo somente para pilhagem entre Portugal, Espanha. E tendo a servido de local para degredar pessoas que por algum motivo cometiam algum crime contra a coroa ou seus procuradores.  Inclusive um arrendamento (aluguel) de todo o imenso território foi cedido para procuradores de Banqueiros Florentinos, o que me fez lembrar uma música do nosso grande Raul Seixas que se chama ALUGA-SE que fala em alugar o Brasil e em um belo texto diz o seguinte:

Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá pra alugar ah ah ah ah

Os estrangeiros eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico tem vista pro mar
A Amazônia é o jardim do quintal
E o dólar dele paga o nosso mingau”.

Nesse período, início do século XVI as grandes nações Portugal e Espanha estavam com seus interesses focados nas especiarias das Índias e sendo assim pouco interessava até então as terras recém descobertas. Com o arrendamento que Dom Manuel rei de Portugal  fez, com um cidadão chamado de Fernão de Loronha que depois passou a ser chamado de Fernando de Noronha o mesmo do nome da ilha hoje pertencente ao estado de Pernambuco, o rei recebia quatro mil Ducados anualmente detalhe pelo preço do Pau Brasil uma riqueza enorme e abundante no enorme território brasileiro bastava dois navios carregados com a madeira para pagar todo o arrendamento.

A escravidão dos indígenas também se tornou uma enorme fonte de receita aos traficantes europeus que os levavam para trabalhos na américa central e futuramente no próprio território para o corte e transporte de Pau Brasil e seu transporte até os locais de embarque.

Durante um século esse sistema de arrendamento e outras pilhagens fizeram com que mais de dois milhões de arvores de Pau Brasil foram cortadas e contrabandeadas para o continente europeu, aonde seriam enviadas para a Holanda para serem processadas em um processo de corte e raspagem por prisioneiros para transformar em pó que seria usado como corante na indústria têxtil principalmente a francesa.

Nesse período foram instaladas as primeiras Feitorias ou locais habitados e fortificados, que mantinham pessoas responsáveis por dar todo o suporte aos navegantes que aqui chegavam em nome do Rei de Portugal normalmente para carregar produtos para o reino e nessas Feitorias também eram deixados prisioneiros degredados para trabalhos forçados.

O Brasil também se tornou o principal roteiro para a conquista de outros territórios, devido a facilidade de aqui chegar proveniente da costa africana e descer em direção ao Rio da Prata. Começavam pelo Cabo de Santo Agostinho, depois se dirigiam ao atual Rio de Janeiro depois Cananéia e posteriormente São Francisco do Sul e Porto dos Patos no entorno da Ilha de Santa Catarina atual Florianópolis.

Interessante ressaltar que o Porto dos Patos (tem esse nome em devido aos habitantes locais os Índios Carijó) foi um porto que raramente foi mencionado em outros livros e ficava na desembocadura do Rio Massiambu, (atual Morro dos Cavalos na Palhoça) e era o principal local de abastecimento de navios que tinham como destino o Rio da Prata e posteriormente a passagem sul para chegar ao Pacífico.

Foi a partir do Porto dos Patos que saiu uma das mais incríveis jornadas já registradas na história do continente sul americano que foi a Epopeia de Aleixo Garcia um dos onze sobreviventes de um naufrágio ocorrido em 1523 na hoje Praia dos Naufragados em Florianópolis, que passou a conviver com os Índios Carijó e ouvindo as lendas de um povo que tinha um Imperador Branco em um lugar em que as montanhas eram cobertas de neve sempre e era um lugar de muita riqueza de ouro e prata.

Aleixo Garcia formou um exército de dois mil homens (Guerreiros Carijó) e se dirigiu em direção a Cananeia hoje no estado de SP para de lá seguir por um caminho chamado de Piabirú até os Andes onde vivia esse povo de tamanha riqueza, e realmente quase dois mil quilômetros depois chegaram e promoveram um ataque não muito bem sucedido, mas mesmo assim um bom número conseguiu voltar para contar a história e trazendo alguns objetos de ouro e prata. Isso fez com que uma nova corrida para conquistar esse reino fosse aberta.

Esse livro é bem denso em informações dos primórdios do nosso país, mostra o total descaso de sua formação social e político administrativa e talvez representa um pouco do que ainda somos hoje, demonstrando o quanto o capital internacional foi e é um divisor de águas em nosso desenvolvimento, traz informações muito importantes sobre o financiamento das diversas empreitadas envolvidas nas navegações durante a descoberta do novo mundo.

Personagens que nos foram apresentados nos livros escolares como Américo Vespúcio, Vasco da Gama, Pedro Alvares Cabral e muitos outros tem suas viagens aqui relatadas, mas por questão de local e espaço preferi não mencionar. Sugiro a leitura desse e dos demais livros que compõem essa coleção que no início do texto eu mencionei, e na medida do possível vou procurar divulgar alguns  dados por aqui.

Florianópolis, 28 de novembro de 2020.

Grande abraço à todos – Paulo Coelho

 


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