14 de fevereiro de 2021

 

O SOLITÁRIO DAS GALÉS


Acabo de ler o meu 18º livro do ano e este ano tem sido diferente em tudo até eu ter voltado a ler com mais frequência hábito esse que desde muito cedo eu procuro praticar.

No livro O Solitário das Galés do Jornalista Raul Caldas Filho, editado em 2006, pela Editora Insular, livro esse que é uma coletânea de diversas entrevistas que o autor fez ao longo de mais de 40 anos de Jornalismo, podemos acompanhar um pouco da história de Santa Catarina e principalmente a história de Florianópolis.

Logo na primeira matéria que por sinal dá nome ao livro O Solitário das Galés, nos é apresentado o senhor Braz João da Silva, que na época da entrevista ele já contava com 62 anos e morando sozinho ao estilo de Robson Crusoé personagem de Daniel Defoe que como náufrago vive longos anos perdido em uma ilha.

Já seu Braz resolve sair da urbanidade de uma vila da cidade de Porto Belo para viver isolado na Ilha das Galés uma pequena ilha sem praia de frente para a Baia de Porto Belo e por lá vive longos anos em seu auto exílio, sobrevivendo de tudo que planta, pesca e colhe. Pode parecer romântico a primeira vista, mas não deve ser fácil dia após dia manter se isolado de tudo e de todos.

Muitos causos são  contados sobre acontecimentos e visitas na ilha, o que não dá para comentar tudo nesse pequeno texto, mas de muita sabedoria para uma pessoa de hábitos e gestos tão simples.

Nas outras entrevistas publicadas nesse livro o autor nos brinda com fatos importantes da história política, cultural, urbanística do Estado e principalmente de Florianópolis. A eterna rivalidade do PSD e UDN, as oligarquias das família Ramos e Bornhausen, os indicados políticos pelo governo militar para ocupar cargos como o de Prefeito da Capital como Esperidião Amim.

Entre os diversos assuntos abordados nas diversas entrevistas publicadas em sua maioria no antigo Jornal O Estado muito me chamou a atenção as pesquisas Arqueológicas do Padre João Alfredo Rohr sobre os primeiros habitantes de Santa Catarina isso ocorrido comprovadamente a milhares de anos. Muitos materiais de valor histórico inestimável foram recolhidos por ele em suas pesquisas nos sítios arqueológicos principalmente Sambaquís pesquisados em Florianópolis e Laguna, local esse que tem apesar de toda a depredação e utilização como material de construção o maior sambaqui do mundo.

Com a chegada do Rádio nos anos cinquenta o jornalismo de Santa Catarina passa a viver um novo momento e principalmente com a Radio Diário da Manhã que em seus momentos áureos chegou a ter mais de cem funcionários e inclusive quatro orquestras para os seus programas de auditório.

 Muitos Jornalistas de renome passaram pelas diversas rádios de Florianópolis e eu vou destacar aqui os irmãos Walter e Adolfo Zigelle, ambos vindos de Joaçaba para trabalhar em Florianópolis a pedido do Ex Governador Jorge Lacerda. Adolfo Zigelle diz que ou confessa que fez um pouco de pressão sensacionalista para que Florianópolis tivesse uma segunda ponte, já que na época ainda a única ligação da ilha com o Continente era a Ponte Hercílio Luz.

A vida social da cidade  era efervescente e os encontros ocorriam principalmente nos bares e botequins que com o tempo foram perdendo espaço para as lanchonetes de Fast Food, bares como o Miramar, o Katicips bar esse que funcionou por mais de sessenta anos e também o Petit que o autor chamou de o último botequim. Não sei se é inerente a profissão de jornalista frequentar bares e butecos, mas muitas pautas e notícias de primeira mão com certeza foram criadas e dadas nas mesas dos bares de Florianópolis.

Outro assunto muito interessante também foi a chegada do carnaval como conhecemos hoje com as escolas de samba e as antigas Grandes Sociedades que faziam os carros de mutação, atividade essa que o meu sogro o Senhor Elpídio de Souza Lopes, falecido esse ano aos 92 anos tanto se orgulhava de ter participado na confecção de carros de carnaval na Tenentes do Diabo e também na Sociedade Carnavalesca  Limoeiro.

Com a criação das Escolas de Samba Florianópolis passa a ser destaque nacional em matéria de carnaval e que segundo Adolfo Zigelli fazia questão de sempre registrar que o carnaval daqui somente deixava a desejar para o de Salvador e o do Rio de Janeiro. Inclusive o músico Luiz Henrique Rosa trouxe para acompanhar o carnaval de Florianópolis no final da década de 1970 a cantora Liza Minelli.

Muito teria o que falar sobre as desavenças polítcas, as empresas comerciais a chegada da televisão a urbanização desenfreada da cidade o progresso ou se é isso que ainda da para dizer com a construção da segunda e da terceira ponte pois a partir daí a especulação imobiliária tomou conta da cidade.

Acredito que a criação da UFSC ou seja, a Universidade Federal de Santa Catarina e a vinda da ELETROSUL para Florianópolis tenham sido os dois principais motivadores para o crescimento da cidade, mesmo sendo uma cidade administrativa passa a ser também uma cidade de comércio forte e grandes eventos.

Aos que se interessaram pelo assunto sugiro a leitura desse livro que tem uma boa dinâmica de leitura pois pode ser lido por assuntos de maior ou menor interesse pessoal já que cada entrevista é um capitulo a parte.

Grande abraço à todos.

Paulo Coelho, Florianópolis,  12 de dezembro de 2020.

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