A ORGANIZAÇÃO – A ODEBRECHT E O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO QUE CHOCOU O MUNDO
Dia 19 de Junho de 2021, terminei
a leitura do meu 10º livro do ano, de Malu Gaspar.
A organização : a Odebrecht e o
esquema de corrupção que chocou o mundo / Malu Gaspar – 1ª ed. São Paulo :
Companhia das Letras, 2020. 639P.
Ao ler este livro que além do seu
enorme volume físico por se tratar de uma obra de quase setecentas páginas,
também nos é apresentado um enorme e bem “estruturado” esquema de corrupção que
conforme a autora não vem somente de governos recentes e sim a mais de
cinquenta anos quando ainda não desfrutávamos de um ambiente democrático tal
qual vivemos agora, apesar de alguns fatos presentes tentarem mostrar o
contrário.
A jornalista Malu Gaspar fez um
trabalho fantástico de pesquisa tanto jornalística quanto histórico sobre a
situação de proximidade dos grandes empreiteiros com o poder independentemente
de qual viés ideológico e político, quer seja esquerda, direita, centro ou
mesmo quando dos militares no poder.
Ao ler a obra da jornalista
mergulhamos num emaranhado e complexo sistema de corrupção que nos traz além de
centenas de códigos e siglas que deixaria boquiaberto, qualquer membro das
maiores máfias e cartéis que já tivemos conhecimento mesmo que por obras de
ficção ou real já vista, tal o nível de detalhes para montagem desse esquema.
Uma briga pelo poder e pelo
dinheiro mesmo, traça o perfil de empresários, sócios, familiares e advogados,
mostrando o quanto essas pessoas são egoístas, excêntricas e determinadas
quando o objetivo é obter vantagens indevidas de governos, sim governos
independentes de esferas administrativas ou mesmo de fronteiras transnacionais.
A Odebrecht para entrar no
“Clube” que era o cartel das grandes empreiteiras que construíram boa parte da
infraestrutura nacional tais como: Itaipú Binacional, Brasília, a
Transamazônica, vários complexos petroquímicos, imensas pontes como a Rio
Niterói, rodovias e uma infinidade de mega obras, teve que pagar um custo muito
alto em propinas à diversos agentes políticos desses governos.
Por se tratar de uma corporação
familiar todos os problemas e conflitos entre pai e filho isso falando dos
últimos Odebrecht em poder de comando total da organização Emílio e seu filho
Marcelo que pelo seu elevado grau de egocentrismo era tratado nos corredores da
empresa como “príncipe”, pessoa de gênio irascível e de difícil trato
extremamente concentrador que o tempo todo tenta superar o pai dentro da
empresa.
O Departamento de Operações
Estruturadas da Odebrecht, órgão este criado especificamente para ter um
controle das propinas pagas e a quem elas eram pagas, foi montado com um
complexo sistema computacional que além de ser hospedado fora do Brasil ainda
usava alta tecnologia de criptografia tornando o praticamente impenetrável.
Neste departamento pouquíssimas
pessoas e de estrita confiança de Marcelo Odebrecht tinham acesso aos códigos
de acesso e também aos codinomes bem como aos valores pagos parcialmente ou
mesmo totais, tendo em vista que alguns pagamentos estavam condicionados a continuação
de projetos ou outros objetos e apoios que a organização julgasse essencial
para sua sobrevivência.
Os volumes de recursos
normalmente muito altos eram disponibilizados das mais variadas formas que iam
de entrega em espécie a transferências bancárias nacionais ou internacionais e
poderiam ser destinados à pessoas físicas, jurídicas, partidos políticos e seus
diretórios e também à advogados designados para esse fim.
E como cada diretor, gerente ou
advogado era responsável por determinado ente público ou privado para entregar
a propina os demais não tinham muito conhecimento se todo o dinheiro pedido e
sacado era realmente entregue ao destinatário, causando acusações sobre
apropriação indébita de propina alheia ou, seja, o cara pedia um valor para dar
a alguém e ficava com uma parte em suas contas ou investimentos particulares.
O volume de dinheiro criou
proporções tão grandes que bancos tiveram que serem comprados no exterior
diga-se paraísos fiscais para efetuarem os depósitos e transferências normalmente
vindos de empresas offshores criadas
pela Odebrecht em diversos destes paraísos fiscais onde eram efetuadas várias
transações até chegar ao destinatário final. Procedimento esse destinado a
ocultar a origem do dinheiro.
Com o advento da Operação Lava
Jato promovida pela Justiça Federal e o Ministério Público Federal do Paraná, o
castelo da organização e de outras grandes companhias empreiteiras, começa a
ruir e entra em ação outros grupos que passam a dar enorme dor de cabeça aos
dirigentes destas e estes grupos são Juízes, mais especificamente Sergio Moro e
um grupo de Procuradores do MPF (que também eram bem ambiciosos), designados
para tratar de investigar mecanismos de corrupção montados dentro das
empreiteiras e principalmente as que
tinham contratos com a Petrobrás.
Com os processos movidos pela
Lava Jato aos empreiteiros, vieram a tona as Delações Premiadas ou Acordos de
Leniência, onde os réus além de colaborar com a justiça informando todos os
processos de corrupção ou à quem o dinheiro era repassado, também multas
vultuosas eram impostas as empresas ou aos delatores. No caso da Odebrecht as
multas foram pagas diretamente pela empresa e com isso além de perder contratos
bilionários com governos no Brasil e também no exterior ainda tinha que tirar
dinheiro do caixa para pagar essas multas.
Voltando aos dois Odebrecht
citados anteriormente Emílio e Marcelo, podemos ver brigas homéricas que
extrapolaram o ambiente da empresa, passando pelo ambiente familiar com cenas
inimagináveis como o bloqueio de cartões de crédito das filhas e de pagamento
de despesas domésticas na casa de Marcelo. Mesmo ficando preso por mais de três
anos na Polícia Federal de Curitiba, Marcelo não se dá por vencido e tenta
manter o controle da companhia e de seus diretores e advogados.
Durante o período de prisão de
Marcelo Odebrecht, este por ser extremamente metódico escreve mais de sete mil
páginas de caderno todas numeradas como se fosse um diário e também uma forma
de enviar aos seus familiares e subalternos na organização de que mesmo preso
ele ainda era a pessoa quem mandava ou tentava mandar em todos.
Com o passar das décadas de
operação com governos dos mais variados níveis a Odebrecht se torna uma das
maiores companhias do Brasil e com grande respaldo mundial, tendo ações na
Bolsa de Nova Iorque e fácil acesso a financiamentos internacionais, porém a principal
fonte de recursos para o seu financiamento eram mesmo os bancos públicos
brasileiros diga-se BNDES, Bando do Brasil e Caixa Econômica Federal e alguns
bancos regionais.
Estas operações normalmente foram
efetuadas por interferência política e isso independia de qual ideologia
estivesse no governo, tendo em vista que a organização procurava manter contato
muito próximo aos governos, claro que em função da Lava Jato a organização
acabou sendo relacionada diretamente aos últimos governos do PT, mas fica muito
claro e com os devidos nomes que conforme já falado acima não importava quem
era o governo e sim quem era o contato forte no governo.
Como o espaço aqui não é o mais
adequado para textos muito longos, vou informar que após entrar em Recuperação
Judicial a Odebrecht hoje tem menos de um quinto dos funcionários que já teve,
um faturamento infinitamente menor e ainda em 18 de dezembro de 2020, mudou de
nome ou de Razão Social para Novonor ou algo como uma combinação de letras
sendo Novo Norte.
Também fiz várias buscas na
internet, na tentativa de verificar se algum dos citados desde o início dos
anos 1970 procurou processar a Jornalista Malu Gaspar por difamação ou calúnia
e não encontrei nada, então acredito que a sua pesquisa tenha sido realmente em
bases bem sólidas quere sejam documentais ou de depoimentos de alguns entes
citados no livro.
Recomendo a todos os que puderem
e tiverem interesse sobre o assunto que leiam o livro desta jornalista.
Grande abraço à todos.
Paulo Coelho – Administrador/Bacharel
e Licenciado em História.
Florianópolis – SC 18/07/2021.