8 de dezembro de 2021

PINHEIRA AINDA UMA AUTÊNTICA VILA DE PESCADORES

 A Praia da Pinheira situada no município de Palhoça - SC, distante a 55 km de Florianópolis capital do estado de Santa Catarina, mesmo com toda a infraestrutura criada ao longo das últimas décadas ainda pode ser vista como uma autêntica vila de pescadores.

Nas primeiras horas de todas as manhãs podemos encontrar um certo vai e vem de pequenos barcos de pesca e botes com peixes prontos para serem vendidos diretamente dos pescadores aos consumidores finais sendo estes turistas ou não.

Eu particularmente conheço esse lugar desde 1990 e desde então sempre procuro fazer inúmeras fotografias desse lugar até porque tenho um imóvel nesta localidade desde então. Acredito que foi um pouco negligenciado por alguns prefeitos por vários anos, mas houveram grandes avanços nas últimas legislaturas em relação a infraestrutura da praia em sí.

É muito comum vermos barcos saindo para os cercos dos lances de Tainha na época da safra deste pescado que ocorre durante os meses de maio a julho de cada ano.

                                            Barcos de pesca Praia da Pinheira Palhoça SC 05/12/21


12 de outubro de 2021

 







A EPOPÉIA AÇÓRICO MADEIRENSE 1748_1756

Em 28 de agosto de 2021, terminei a leitura do meu 12º livro do ano, de Walter Fernando Piazza.

A epopeia Açórico-Madeirense 1747-1758 / Walter F. Piazza, Florianópolis: Ed. da UFSC; Lunardelli, 1992, 490 p.: il.

 

Ao ler esse livro do Historiador catarinense Walter F. Piazza, que teve como base as suas inúmeras pesquisas em arquivos históricos de diversas entidades portuguesas especialmente em Lisboa e na região dos Açores e Ilha da Madeira, bem como em várias instituições militares e civis brasileiras e catarinenses.

 Podemos ter uma ideia bem detalhada sobre o que e como foi realmente a epopéia dos casais açorianos e madeirenses, ao se transferirem para o Brasil e mais especificamente em Desterro (hoje Florianópolis) e seu entorno na Província de Santa Catarina.

Uma das grandes dificuldades de ler este livro foi a questão de ter sido feito uma transcrição literal dos documentos de época com todas as variáveis de grafia que muito posteriormente foram modificadas e não importava se era o rei ou seus súditos que estivessem escrevendo o que nós hoje consideraríamos como erros de grafia naquela época era perfeitamente natural, isso sem contar as abreviações no meio das cartas e também as repetições de documentos pois as vezes o mesmo documento era encontrado em lugares e arquivos diferentes. Tudo isso devido a burocracia portuguesa que informava que os documentos seguiam em vias diferentes.

A partir dos relados de Walter Piazza podemos ter acesso a toda a burocracia portuguesa e todos os seus graus de comando e influências inclusive as autoridades religiosas como Bispos e demais agregados da Igreja Católica que tinha uma certa simbiose com o sistema de governo português tendo em vista esse ser uma monarquia voltada e devota do catolicismo.

Conflitos com a Espanha e temor de perda de parte de suas posses na américa, principalmente na fronteira sul do Brasil, o governo de Portugal, se vê obrigado a tomar dinheiro emprestado “a juros’ de cinco por cento ao ano de capitalistas para então efetuar o que foi uma verdadeira epopéia para a época em questão.

Funcionários das mais diversas hierarquias governamentais e religiosas eram encarregados de fazerem um censo dos casais e com idades bem específica que quisessem se transladar para o Brasil e as ordem eram bem claras e deveriam ser reportadas diretamente a coroa portuguesa em Lisboa para que fosse organizado todo o engenhoso processo para a transferência transatlântica.

A burocracia portuguesa era de tal ordem que os mínimos detalhes eram colocados nos contratos com os “assentistas” assim chamados os transportadores que iriam realizar o transporte marítimo dos casais e seus filhos que assim o fossem permitidos serem transportados e inclusive especificava o quando de comida ou (ração) seria fornecido para cada pessoa maior, adolescente a partir de três anos até quatorze anos e designando que não poderia ser dado e cobrado nada os de até três anos pois estes não estaria sendo custeados pela coroa.

Espaços reservados para mulheres que não poderiam ser acessados por hipótese alguma por outros homens da embarcação exceto seus maridos, um número mínimo de padres a bordo para poder efetuar os ofícios religiosos, quantidade de água a ser distribuída e médico a bordo tudo isso fazia parte dos compromissos que deveriam ser seguidos, para que após a chegada ao destino final fosse efetuado o pagamento ao transportador e até os que morriam no trajeto eram descontados, já que o contrato previa o pagamento por pessoa transportada.

Na segunda metade do século XVIII o Arquipélago dos Açores (formado por nove ilhas) e também a Ilha da Madeira, ambas possessões da coroa portuguesa, passavam por uma explosão demográfica e também vitimados pelo flagelo da fome devido a uma série de eventos climáticos e também outros fenômenos naturais decorrentes da origem vulcânica dessas terras.

Erosão e exaurimento do solo, criaram a condição perfeita para a crise que assolou a região, e região esta que mesmo sendo uma grande potência agrícola, se torna insuficiente para alimentar sua população e ainda pagar os impostos devidos a coroa portuguesa sobre a produção.

Foi então que por convencimento de seus conselheiros Ultramarinos o então Rei de Portugal resolve abrir edital público para transferência de aproximadamente oito mil casais para suas possessões na américa e principalmente em Desterro ao sul do Brasil na Província de Santa Catarina.

Na província de Santa Catarina foi designado o Brigadeiro José da Silva Paes para proporcionar todo o alojamento e distribuição de terras, ferramentas e animais, bem como a alimentação mínima a base de farinha, carne e peixe por um período não inferior a um ano, para que os casais se instalassem da melhor forma. Por mais que isso possa ter sido pretendido jamais foi cumprido na íntegra conforme o edital real previa.

Imaginemos milhares de pessoas que levaram meses para cruzar o Atlântico deixando para trás tudo que tinham e que quando conseguiam vendiam por uma ninharia por acreditar em uma vida melhor chegar a um local completamente desconhecido e repleto de animais, terem que desbravar matas para construir suas residências e roças? Quanta dificuldade devem ter encontrado em Desterro na Ilha de Santa Catarina. Isso tudo ainda levando em conta que muitos dos seus entes queridos não puderam embarcar por estarem fora da idade que o régio edital previa.

Nesse período Desterro carecia de pessoas para completar o povoamento da terra e também para abastecer as necessidades da região e também os navios que seguiam para o Rio da Prata, e a vinda desses casais tinha exatamente esse objetivo.

Com a vinda dos casais de açorianos e madeirenses, para Desterro, comunidades foram criadas ou ampliadas, igrejas erguidas e também como previa o régio edital companhias de milícias destinadas a segurança e a ordem das localidades foram montadas por oficiais que já vieram com essa formação lá de Portugal.

A partir das inúmeras relações de passageiros dos transportadores e também de documentos do governo local podemos ter acesso a alguns nomes que posteriormente se tornaram famílias tradicionais de Florianópolis ou mesmo se não tradicionais por posses ou cargos, mas muito tradicionais nas vilas onde foram inseridas.

Atividades que tiveram um grande incremento com a vinda dos açorianos para desterro foram a fabricação de farinha de mandioca, produto esse que foi usado em substituição ao trigo e outros cereais plantados nas Ilhas dos Açores, fabricação de cachaça a partir da cana de açúcar que por sinal se tornou um dos produtos mais comercializados por Desterro, produção de peixe seco, plantação de frutas e também extração de lenha para abastecer os navios que seguiam para o sul, isso tudo fazia parte da economia local nesse período.

Conforme comento em cada pequeno resumo, que faço dos livros que leio para socializar o seu conteúdo, este espaço se torna pequeno ou inadequado para publicação de detalhes mais aprofundados dos livros, então temos a referência completa logo no início e sugiro aos que tenham interesse no assunto que façam suas pesquisas complementares de acordo com os seus objetivos.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC   12/10 /2021.



19 de setembro de 2021

 FEIRA LIVRE UM ENCANTO DE CORES E SABORES.

Feiras livres são lugares encantadores, onde temos uma explosão de cores e sabores.
Produtos das mais variadas origens normalmente de agricultura familiar nos trazem uma experiência de consumo incrível, eu sou fascinado pelo ambiente das feiras.
Credito esse gosto por esse tipo de comércio as minhas origens camponeses e também por ter sido criado dentro de uma venda onde a venda a granel sempre foi a tônica do comércio do meu PAI.
Estas imagens eu fiz ontem dia 18/09/2021 na feira livre do Largo da Alfândega em Florianópolis - SC.













24 de julho de 2021

 









APROPRIAÇÃO DA SOCIOBIODIVERSIDADE: DISPUTA PELA PROPRIEDADE INTELECTUAL DOS SABERES INDÍGENAS NAORDEM CONSTITUCIONAL BRASILEIRA

Dia 24 de Julho de 2021, terminei a leitura do meu 11º livro do ano, de Juliano dos Santos Seger.

Apropriação da sociobiodiversidade: disputa pela propriedade intelectual dos saberes indígenas na ordem constitucional brasileira /Juliano dos Santos Seger; Curitiba, PR: Brazil Publishing, 2019 214p.

 

Ao ver esse livro como sugestão de uma editora que eu acompanho nas redes sociais a capa que é linda e o nome do livro logo atraíram a minha atenção, então fui dar uma olhada na resenha da editora até por conhecer pouco sobre o tema e não conhecer o autor.

Escrito por um Advogado, porém com uma pesquisa histórica perfeita sobre os saberes e fazeres dos povos originários que por milênios ocupam o nosso país. Confesso que tive uma certa dificuldade quanto ao linguajar em alguns momentos um tanto quanto juridiquês, e também o vai e vem de capítulos, parágrafos e artigos de leis citados.

Conforme as sociedades vão mudando é normal que as leis e constituições que as regem também acompanhem essas mudanças, mas tem sociedades em que essas mudanças ocorrem de forma diferente tanto tecnologicamente ou temporalmente o que pode trazer grandes problemas para grupos etnicamente menos protegidos pelas leis caso dos Indígenas que basicamente tem os seus saberes e fazeres transmitidos de forma oral por milênios.

O enfoque principal deste livro é exatamente saber como devem ser remunerados os povos tradicionais pelo conhecimento por eles adquiridos e que são indevidamente apropriados desses povos quer seja por aproximação, convívio ou mesmo biopirataria.

Desde o período do Império diversas constituições foram implementadas no Brasil e somente na de 1934 que houve algum tipo de proteção aos povos indígenas e seus conhecimentos adquiridos, mas a constituições que a seguiram, mantiveram alguma proteção e voltaram atrás em outras e somente com a constituição cidadã de 1988 estes povos tiveram os seus direitos preservados.

O Brasil é signatário de vários organismos internacionais que tratam do Meio Ambiente e também de proteção aos povos originários como por exemplo o Protocolo de Nagoya, que veio a partir de uma reunião com 193 países nessa cidade do Japão.

Mesmo assim as diversas leis não são suficientes para garantir que os verdadeiros detentores do conhecimento se beneficiem quando determinadas plantas ou organismos são manipulados por grandes indústrias químicas ou farmacêuticas os transformam em produtos ou medicamentos novos, transformando esse conhecimento em lucros bilionários para essas empresas transnacionais e com grande capacidade de lobby junto aos órgãos reguladores.

Importante ressaltar que a legislação brasileira e também internacional quanto aos direitos autorais tem muitas brechas que inclusive cria dúvidas e processos intermináveis, que poderiam colocar em cheque o direito sobre os conhecimentos ancestrais.

Na década passada o governo brasileiro teve que intervir diplomaticamente junto à organização internacional que cuida da propriedade intelectual e registro de patentes, para que o nome Açaí deixasse de pertencer a uma corporação japonesa que havia registrado a marca desse fruto típico da Floresta Amazônica como sua propriedade o que impedia que os produtores de Açaí ficassem impedidos de comercializar o fruto sem ter que pagar royalties para essa empresa.  

Vários entes federativos e políticos brasileiros nem sempre levaram a sério que esse patrimônio genético de conhecimentos e também de plantas e organismos são na realidade um grande patrimônio do povo brasileiro que pode inclusive valer muito mais que determinados minerais ou outros produtos da cadeia extrativista. Inúmeras foram as concessões fornecidas quer seja por ingenuidade, falta de conhecimento ou mesmo por corrupção.

Na minha opinião todo esse patrimônio cultural, e seus povos detentores do conhecimento dos mesmos devem em primeiro lugar serem remunerados, preservados e assistidos pelos órgãos constitucionalmente designados para essas funções, quer sejam, agências reguladoras, fundações de proteção (FUNAI, IBAMA, ICMBIO), Ministério Público e demais entes, em benefício destes e também do povo brasileiro.

Acredito ser uma tarefa árdua e que entra em conflito com interesses muito grandes de poder e finanças, contra grandes corporações, quer sejam nacionais ou transnacionais, mas vale a pena lutarmos pela preservação desses.

Encerrando o meu comentário sobre o livro, tenho somente a elogiar o trabalho de pesquisa do autor Juliano dos Santos Senger, e sugiro aos que se interessarem pelo assunto que leiam o livro, que como já mencionei é bem polêmico e ainda pode render diversos embates jurídicos em cortes nacionais ou mesmo internacionais.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC    24/07/2021. 



18 de julho de 2021

 

A ORGANIZAÇÃO – A ODEBRECHT E O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO QUE CHOCOU O MUNDO

Dia 19 de Junho de 2021, terminei a leitura do meu 10º livro do ano, de Malu Gaspar.

A organização : a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo / Malu Gaspar – 1ª ed. São Paulo : Companhia das Letras, 2020. 639P.

Ao ler este livro que além do seu enorme volume físico por se tratar de uma obra de quase setecentas páginas, também nos é apresentado um enorme e bem “estruturado” esquema de corrupção que conforme a autora não vem somente de governos recentes e sim a mais de cinquenta anos quando ainda não desfrutávamos de um ambiente democrático tal qual vivemos agora, apesar de alguns fatos presentes tentarem mostrar o contrário.

A jornalista Malu Gaspar fez um trabalho fantástico de pesquisa tanto jornalística quanto histórico sobre a situação de proximidade dos grandes empreiteiros com o poder independentemente de qual viés ideológico e político, quer seja esquerda, direita, centro ou mesmo quando dos militares no poder.

Ao ler a obra da jornalista mergulhamos num emaranhado e complexo sistema de corrupção que nos traz além de centenas de códigos e siglas que deixaria boquiaberto, qualquer membro das maiores máfias e cartéis que já tivemos conhecimento mesmo que por obras de ficção ou real já vista, tal o nível de detalhes para montagem desse esquema.

Uma briga pelo poder e pelo dinheiro mesmo, traça o perfil de empresários, sócios, familiares e advogados, mostrando o quanto essas pessoas são egoístas, excêntricas e determinadas quando o objetivo é obter vantagens indevidas de governos, sim governos independentes de esferas administrativas ou mesmo de fronteiras transnacionais.

A Odebrecht para entrar no “Clube” que era o cartel das grandes empreiteiras que construíram boa parte da infraestrutura nacional tais como: Itaipú Binacional, Brasília, a Transamazônica, vários complexos petroquímicos, imensas pontes como a Rio Niterói, rodovias e uma infinidade de mega obras, teve que pagar um custo muito alto em propinas à diversos agentes políticos desses governos.

Por se tratar de uma corporação familiar todos os problemas e conflitos entre pai e filho isso falando dos últimos Odebrecht em poder de comando total da organização Emílio e seu filho Marcelo que pelo seu elevado grau de egocentrismo era tratado nos corredores da empresa como “príncipe”, pessoa de gênio irascível e de difícil trato extremamente concentrador que o tempo todo tenta superar o pai dentro da empresa.

O Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, órgão este criado especificamente para ter um controle das propinas pagas e a quem elas eram pagas, foi montado com um complexo sistema computacional que além de ser hospedado fora do Brasil ainda usava alta tecnologia de criptografia tornando o praticamente impenetrável.

Neste departamento pouquíssimas pessoas e de estrita confiança de Marcelo Odebrecht tinham acesso aos códigos de acesso e também aos codinomes bem como aos valores pagos parcialmente ou mesmo totais, tendo em vista que alguns pagamentos estavam condicionados a continuação de projetos ou outros objetos e apoios que a organização julgasse essencial para sua sobrevivência.

 

Os volumes de recursos normalmente muito altos eram disponibilizados das mais variadas formas que iam de entrega em espécie a transferências bancárias nacionais ou internacionais e poderiam ser destinados à pessoas físicas, jurídicas, partidos políticos e seus diretórios e também à advogados designados para esse fim.

E como cada diretor, gerente ou advogado era responsável por determinado ente público ou privado para entregar a propina os demais não tinham muito conhecimento se todo o dinheiro pedido e sacado era realmente entregue ao destinatário, causando acusações sobre apropriação indébita de propina alheia ou, seja, o cara pedia um valor para dar a alguém e ficava com uma parte em suas contas ou investimentos particulares.

O volume de dinheiro criou proporções tão grandes que bancos tiveram que serem comprados no exterior diga-se paraísos fiscais para efetuarem os depósitos e transferências normalmente vindos de empresas offshores criadas pela Odebrecht em diversos destes paraísos fiscais onde eram efetuadas várias transações até chegar ao destinatário final. Procedimento esse destinado a ocultar a origem do dinheiro.

Com o advento da Operação Lava Jato promovida pela Justiça Federal e o Ministério Público Federal do Paraná, o castelo da organização e de outras grandes companhias empreiteiras, começa a ruir e entra em ação outros grupos que passam a dar enorme dor de cabeça aos dirigentes destas e estes grupos são Juízes, mais especificamente Sergio Moro e um grupo de Procuradores do MPF (que também eram bem ambiciosos), designados para tratar de investigar mecanismos de corrupção montados dentro das empreiteiras e principalmente as que tinham contratos com a Petrobrás.

Com os processos movidos pela Lava Jato aos empreiteiros, vieram a tona as Delações Premiadas ou Acordos de Leniência, onde os réus além de colaborar com a justiça informando todos os processos de corrupção ou à quem o dinheiro era repassado, também multas vultuosas eram impostas as empresas ou aos delatores. No caso da Odebrecht as multas foram pagas diretamente pela empresa e com isso além de perder contratos bilionários com governos no Brasil e também no exterior ainda tinha que tirar dinheiro do caixa para pagar essas multas.

Voltando aos dois Odebrecht citados anteriormente Emílio e Marcelo, podemos ver brigas homéricas que extrapolaram o ambiente da empresa, passando pelo ambiente familiar com cenas inimagináveis como o bloqueio de cartões de crédito das filhas e de pagamento de despesas domésticas na casa de Marcelo. Mesmo ficando preso por mais de três anos na Polícia Federal de Curitiba, Marcelo não se dá por vencido e tenta manter o controle da companhia e de seus diretores e advogados.

Durante o período de prisão de Marcelo Odebrecht, este por ser extremamente metódico escreve mais de sete mil páginas de caderno todas numeradas como se fosse um diário e também uma forma de enviar aos seus familiares e subalternos na organização de que mesmo preso ele ainda era a pessoa quem mandava ou tentava mandar em todos.

Com o passar das décadas de operação com governos dos mais variados níveis a Odebrecht se torna uma das maiores companhias do Brasil e com grande respaldo mundial, tendo ações na Bolsa de Nova Iorque e fácil acesso a financiamentos internacionais, porém a principal fonte de recursos para o seu financiamento eram mesmo os bancos públicos brasileiros diga-se BNDES, Bando do Brasil e Caixa Econômica Federal e alguns bancos regionais.

Estas operações normalmente foram efetuadas por interferência política e isso independia de qual ideologia estivesse no governo, tendo em vista que a organização procurava manter contato muito próximo aos governos, claro que em função da Lava Jato a organização acabou sendo relacionada diretamente aos últimos governos do PT, mas fica muito claro e com os devidos nomes que conforme já falado acima não importava quem era o governo e sim quem era o contato forte no governo.

Como o espaço aqui não é o mais adequado para textos muito longos, vou informar que após entrar em Recuperação Judicial a Odebrecht hoje tem menos de um quinto dos funcionários que já teve, um faturamento infinitamente menor e ainda em 18 de dezembro de 2020, mudou de nome ou de Razão Social para Novonor ou algo como uma combinação de letras sendo Novo Norte.

Também fiz várias buscas na internet, na tentativa de verificar se algum dos citados desde o início dos anos 1970 procurou processar a Jornalista Malu Gaspar por difamação ou calúnia e não encontrei nada, então acredito que a sua pesquisa tenha sido realmente em bases bem sólidas quere sejam documentais ou de depoimentos de alguns entes citados no livro.

Recomendo a todos os que puderem e tiverem interesse sobre o assunto que leiam o livro desta jornalista.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC    18/07/2021.



19 de abril de 2021

 



AS DEFESAS DA ILHA DE SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA

Dia 06 de abril de 2021, terminei a leitura do meu 8º livro do ano, de Oswaldo Rodrigues Cabral.

AS DEFESAS DA ILHA DE SANTA CATARINA NO BRASIL COLÔNIA/ Oswaldo Rodrigues Cabral Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional/Conselho Federal de Cultura, 1972. p. 136. Il.

Este livro é um documento de grande valor histórico para todos os que se interessam sobre a história e vida na Ilha de Santa Catarina no período logo após a vinda dos colonos açorianos para cá provenientes de um processo de colonização organizado pela Coroa Portuguesa.

Antes de contar a história do livro propriamente dita, vou contar outra muito legal de como esse livro chegou até as minhas mãos para que eu possa enfim escrever sobre ele.

Como residente em Florianópolis, tenho uma certa dificuldade de encontrar no nosso mercado de Sebos ou livros usados uma boa variedade de livros sobre a história da Ilha de Santa Catariana, tema esse que tenho procurado ler e pesquisar com maior frequência e com isso acabo tendo que procurar nos meios de venda online da internet e nesse caso a Estante Virtual que é um grande HUB ou agregador de quase três mil Sebos do Brasil inteiro tem facilitado muito diversas aquisições.

Quando da última compra que este livro fazia parte, a minha surpresa foi grande, tendo em vista que o mesmo me foi enviado por um Sebo da minha cidade, mais especificamente do Bairro dos Ingleses chamado “O Escambau” termo bem utilizado no linguajar local, e para minha total felicidade consegui saber quem foi o proprietário anterior e ainda veio com algumas surpresas internas.

O livro pertenceu a um senhor que carimbava em tinta verde diversas páginas do livro para que o mesmo ao cair em alguma mão pudesse retornar ao seu dono e no carimbo assim estava “Dr. Luiz Calderan Beltrão” residente na Av. Trompowsky, um dos endereços bem nobres de Florianópolis, não preciso informar mais detalhes do ilustre proprietário do livro, quanto a sua residência.

Outra coisa que me surpreendeu completamente foi que este senhor era muito zeloso pela história e com grande conhecimento também devido as algumas correções que estão no livro, mas surpresa mesmo foi que o livro veio recheado de recortes de jornais e um inclusive é uma página inteira do jornal Diário Catarinense datado de 15 de junho de 1992, onde tem uma foto bem grande da Fortaleza de Anhatomirim quando as reformas estavam sendo concluídas  para abertura ao público e no seu verso uma página sobre o relatório que se estava montando referente a ECO/92 reunião da ONU sobre o clima ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no mesmo ano. Também tem vários recortes de jornais de datas diversas que mostram o grau de ruínas em que as fortalezas se encontravam antes da sua recuperação pela UFSC.

Voltando ao livro propriamente dito, desde os primeiros anos que os portugueses puseram os pés no Brasil isso no início do século XVI, a Ilha de Santa Catarina, antiga Ilha dos Patos, que depois se tornou Desterro e atualmente é Florianópolis a capital do Estado de Santa Catarina, que esse lugar de belezas sem iguais e também um dos melhores portos naturais do sul do Brasil, é objeto de interesse tanto da Coroa Portuguesa como também de outras nações devido ao seu caráter estratégico.

Como a Ilha de Santa Catarina era o último porto natural dos navios que rumavam para a região do Prata e também para o Pacífico e ainda tinha muita madeira para fornecimento de lenha aos navios bem como madeiras nobres para consertar naves danificadas e também para exportação e água em abundância bem como frutas e verduras de muitas espécies este local se torna ponto de parada obrigatória para todos que tinham o sul como destino que seja a Província de São Pedro do Rio Grande ou a região do Prata.

Em 1737 a Coroa Portuguesa atendendo a pedido do Governador do Rio de Janeiro com a finalidade de resguardar em segurança toda a costa sul do Brasil inclusive fortificar a Ilha de Santa Catarina que à este estava subordinada, e determina que sejam construídas fortalezas para proteção e controle deste lugar conforme já mencionado é estratégico para Portugal.

No ano de 1738 o Brigadeiro José da Silva Paes então é designado por Carta Régia do Rei D. João V, para construir quatro fortalezas com a finalidade de proteger a Ilha de Santa Catarina, principalmente dos espanhóis.

Então são idealizadas três fortalezas na região norte da ilha e uma ao sul da mesma, as três formariam uma espécie de triângulo de fogo de acordo com suas posições que segundo o seu idealizador teriam a condição de por meio de fogos cruzados interceptar qualquer navio que tentasse entrar por essa via marítima e muito próximas da cidade do Desterro e a do sul teria a finalidade de conter invasão que por essa via pudesse tentar ingressar.

E assim em 1739 as fortalezas começam a serem erguidas começando pela de Santa Cruz na ilha de Anhatomirim a maior de todas, a de Santo Antônio na ilha de Ratones (Raton grande) e também a de São José da Ponta Grossa essa em terra firme na Ilha de Santa Catarina e a da Barra do Sul.

Além das fortalezas acima citadas que realmente eram as maiores e também as melhores equipadas em poder de fogo e ainda foram criados, mais quatro fortes no trecho que hoje entendemos por Beiramar Norte que começavam no Forte de Santana e vinham até aonde próximo a atual Praça Nereu Ramos (Hotel Magestic). Com isso podemos imaginar o quanto a Ilha de Santa Catarina era militarizada tendo uma grande quantidade de militares envolvidos na sua segurança e também outras atividades administrativas.

Cada fortaleza funcionava com corpo de tropa, governador capelão e demais oficiais de forma autônoma, independentemente de receberem ou não seus vencimentos que por vezes chegava a fica até seis a oito anos atrasados e os soldados praticamente vestindo trapos como fardamento e completamente mal municiados.

Anos mais tarde foram identificados vários erros no projeto de construção das fortalezas, se chegou a conclusão que elas não poderiam atender as finalidades de proteção a que o Rei de Portugal acreditava ter feito ao construir essas obras. Pelo tipo de armamento os fogos jamais poderiam se cruzar para realmente funcionar como um triângulo de fogo, ou seja, praticamente serviam para atirar balas ao mar pois não chegariam a qualquer navio que adentrasse pelo lado norte.

A 20 de fevereiro do ano de 1777 os espanhóis sabendo dessas deficiências invadem a Ilha de Santa Catarina por Canasvieiras, fazendo que essa se rendesse sem que fossa dado um único tiro, e inclusive o comandante de duas das três fortalezas literalmente garraram o mato vindo a se render dias depois. Os espanhóis, ficam de posse de Desterro por aproximadamente um ano até que os reinos de Portugal e Espanha resolvem um comum acordo se pacificarem.

As atividades militares na Ilha de Santa Catarina sempre foram levadas ao extremo pois conforme promessa feita aos colonos que foram enviados das Ilhas dos Açores esses não poderiam ser convocados para ou alistados para o serviço militar, fato esse que os diversos Governadores de Desterro frequentemente convocavam compulsoriamente estes para servirem nas tropas dos quarteis dentro das fortalezas e também nas áreas urbanas.

A convocação era de forma vitalícia sendo impossível a sua baixa a menos que os soldados estivessem muito velhos ou estropiados de alguma guerra que eles participassem normalmente no sul do Brasil ou muito doentes e na maioria das vezes ainda tinham que indicar um parente ou amigo para ficar no seu lugar.

As tropas dos quartéis eram divididas em três grupos conforme o grau de influência dos cidadãos que vinham a ser, O Regimento de Linha, De Milícias e As Ordenanças cada um desses grupos com suas hierarquias e postos militares divididos em alguns que hoje nem usamos mais como um dos mais importantes abaixo do Comandante que era o Sargento Mór.

O livro é muito bem escrito apresentando uma grande quantidade de mapas e planilhas com inventários de todos os equipamentos, munições de diversos calibres e contingentes de cada uma das fortalezas ou pequenos fortes bem como os nomes dos comandantes e o tipo de vestimenta das tropas da época.

Como esse espaço é relativamente limitado vou encerrando por aqui e sugiro a leitura desse livro aos que se interessam pela História da Ilha de Santa Catarina ou da História militar da Ilha de Santa Catarina na Desterro dos séculos XVIII e XIX.

Grande abraço à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     19/04/2021






29 de março de 2021

 



ARCA AÇORIANA

Dia 17 de março de 2021, terminei a leitura do meu 7º livro do ano, de Almiro Caldeira de Andrade

 ARCA AÇORIANA / Almiro Caldeira de Andrade. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1984. p. 154

Este livro é um romance de ficção que faz parte de uma trilogia chamada ROCAMARANHA (não tive acesso aos dois anteriores), que além de narrar a saga da travessia do Atlântico pelos imigrantes açorianos, é ambientado em Desterro atual Florianópolis capital do Estado de Santa Catarina no ano de 1777, quando a ainda provinciana cidade de Desterro foi invadida e ocupada pelos espanhóis por cerca de um ano.

O início da história se dá em um momento que uma avó, conta para sua neta sobre uns segredos guardados por gerações em uma Arca da sua bisavó onde tinham objetos e documentos que por muito tempo pertenceram a família e eram desconhecidos de muita gente.

Por tratar se de um romance, mesmo sendo ambientado em local e tempo histórico adequado, ou seja, a Ilha de Santa Catarina ou Desterro da época é o local em destaque. Se pode notar toda uma licença poética do escritor tanto nos modos de vida e convívio bem como o jeito que os sentimentos e amores são relatados, o que vem a ser um pouco diferente da forma que vemos os descendentes de açorianos que hoje temos contato, bem como o que ouvimos sobre seus ancestrais.

Normalmente o perfil do açoriano em seu seio doméstico nos é apresentado como uma pessoa, mais introspectiva e recatada principalmente em relação à estranhos e isso muda tudo quando os personagens com seus dramas, sonhos e intrigas são apresentados.

Na Desterro de 1777 o modo de vida mesmo com a vinda dos primeiros colonos vindo do Arquipélago dos Açores a partir de 1748 por projeto de emigração da Coroa Portuguesa, ainda é completamente típico de vila praticamente esquecida onde a simples mudança de um bairro para outro, era normalmente tratada como viagem, devido a precariedade de suas estradas, tendo em vista que boa parte do transporte ainda se fazia por via marítima através de canoas. O que não a impedia de ter a sua importância.

A Ilha de Santa Catarina ou Desterro, por ser o melhor e o último porto onde os navios que seguiam para a região do Rio da Prata, sempre foi um local de parada para reabastecimento com água fresca, e carne das mais diversas, farinha, aguardente, madeiras em forma de lenha principalmente. E com isso utilizada como projeto de livrar parte da população das Ilhas dos Açores em Portugal da fome em um processo de colonização.

Neste período a posse da terra aos colonos, ainda era uma concessão do reino aos que para cá se deslocaram, por titularidades chamadas de Sesmarias, ou seja, uma quantidade de terra que delimitava todo o espaço que cada família ou grupo familiar poderiam ocupar de forma legal devendo lealdade a Coroa Portuguesa.

Tal como hoje ainda é comum várias pessoas da mesma família se instalarem dentro desse mesmo lote de terra e construírem casas e plantarem suas roças onde começavam a produzir para sí, conforme a condição civil ia mudando (casamentos) e a família aumentando.

O autor faz uma referência bem humorada de como a Imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos acabou por permanecer em Desterro tendo em vista que o destino final da Imagem seria Porto Alegre, ou São Pedro do Rio Grande como assim era conhecida a capital da província ao sul de Santa Catarina.

Informa que um grupo de marinheiros chamou um padre para “benzer” o barco que conduzia a imagem já que depois de três tentativas de levantar velas, o mar ficava revolto não dando condições de seguir viagem isso tudo sempre com escárnio do próprio Capitão do barco. Após acertar o valor da indenização sobre o valor da imagem o santo ficou aqui e o barco seguiu.

Voltando a conversa inicial da avó com a neta, é informado que a bisavó se apaixonou por um rapaz local e que por uma desavença dos dois em relação a um oficial espanhol que este acreditava que ela teve algo com o dito oficial fazendo com que passassem um bom tempo distanciados um do outro. Fato esse somente resolvido quando da morte desse oficial em uma disputa com um outro pretendente da moça.  Logo depois retomam suas vidas na família inclusive construindo casa e plantando junto das terras, que por doação real a eles pertenciam, e não sendo entregues aos oficiais espanhóis por resistência a durante a ocupação da Ilha no ano de 1777 inclusive correndo o risco de confiscos das mesmas e morte por traição ao reino de Espanha.

Algumas escaramuças entre os invasores, e alguns insurgentes locais ocorrem o que deixa as famílias dos envolvidos em estado de alerta constante com medo de perderem suas terras sob forma de confisco pelos representantes dos Reino da Espanha.

Muito bem representado toda a estrutura administrativa, social, de trabalho e também a indignação dos que não concordavam em prestar vassalagem (mesmo correndo o risco de perderem suas terras) ao reino da Espanha, na Desterro ocupada de 1777 o que durou aproximadamente um ano, quando os dois reinos então fizeram acordo sobre as demarcações e limites a serem explorados por cada uma das coroas em sua zona de influência.

O livro termina com uma conversa de uma descendente muito distante dos personagens que foram o centro de toda a obra sendo apresentados a uns documentos e objetos que por muitas gerações ficaram esquecidos em uma arca que data do tempo da vinda dos primeiros imigrantes açorianos que em Desterro chegaram.

Por ser um romance ficcional, mesmo trazendo a luz fatos, nomes e personalidades eu preferi fazer esse comentário não levando em conta todos os documentos históricos que são de conhecimento sobre a falha nas defesas da Ilha de Santa Catarina o que veio a permitir a sua invasão, a partir, de Canasvieiras pelos espanhóis.

Mesmo sendo uma obra de ficção, achei a ambientação territorial, e das pessoas bem como seus costumes, crenças, trajes, e animais domésticos bem adequados para contar uma história diferente sobre Desterro.

 Grande abraços à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     27/03/2021.





24 de março de 2021

 


FEIRAS LIVRES ACOMPANHANDO A HUMANIDADE – (Paulo Coelho)

 

Se tem um tema relativo ao comercio, que envolve os humanos por milênios e me fascina muito inclusive é citado na Bíblia e em praticamente em todas as culturas são as feiras livres, local esse que ao longo dos tempos serviu de ambiente para as sociabilidades, e também recebimento de notícias.

A feira livre abre a oportunidade para que os pequenos comerciantes que não tenham um comércio estático e de portas abertas com horário para abrir e fechar, possam trazer seus produtos e montarem as suas barracas praticamente em “qualquer” lugar. Isso não quer dizer que as feiras livres sejam uma terra de ninguém tendo em vista que atualmente todas as feiras são reguladas pelas municipalidades.

O ambiente normalmente em espaço aberto e onde os feirantes se confinam em pequenos locais nas suas barracas as vezes ocupado por vários integrantes da mesma família, permite que os mesmos tenham técnicas próprias de divulgação e apregoam os seus produtos de acordo com as qualidades e também seus possíveis usos.

Ir à feira ou fazer a feira é encontro com nossas raízes mais ancestrais, desde os períodos mais remotos onde o escambo era, a moeda corrente, ou seja, a troca também foi utilizada como meio de comércio e dava a tônica aos comércios nas feiras livres também.

Hoje muitas das feiras livres, estão um tanto quanto modernizadas e não vendem somente produtos de origem rural e camponesa como antigamente, são verdadeiras “delicatessen” ou seja, locais de venda de produtos mais sofisticados destinados a um público bem específico. E hoje em várias barracas praticamente não temos mais o uso da moeda ou dinheiro vivo como forma de pagamento e sim cartões de crédito ou débito em suas mais variadas forma de uso.

Mesmo com a evolução dos supermercados, e o comércio por meio eletrônico com delliveri, ainda é crescente o número de comunidades mesmo que em grandes centros urbanos e próximos a bairros ditos como “nobres” as feiras livres se fazem presentes, até pelo nível de personalização que elas permitem. Com esse sistema o cliente não fica restrito as embalagens e quantidades pré - ofertadas pelos grandes mercados e tem sempre produtos frescos e na quantidade que bem desejarem.

A minha origem camponesa e também de filho de pequeno comerciante me permite conversar com os leitores sobre o assunto tendo em vista que um pequeno comércio que o meu PAI criou a mais de 50 anos e local esse que serviu para todo o sustento dos seus seis filhos, até hoje ainda se mantém aberto sendo conduzido por um irmão que não seguiu a carreira de trabalhador em empresas ou de governos.

Grande abraço à todos.

Paulo Coelho – Administrador e Bacharel e Licenciado em História.

Florianópolis – SC 24/03/2021


                                           Foto Paulo Coelho março/2021




                                            Foto Paulo Coelho março/2021

                                                      Foto Paulo Coelho março/2021

 


UM JOGADOR, UM TIME E UMA CIDADE EM MOVIMENTO

 O cenário atual do futebol profissional de Florianópolis, em especial no que diz respeito ao clube que reside na parte continental da capital do estado, é decadente. Contudo, a história está aí pra mostrar a grandeza do Figueirense, que pode se vangloriar da memória de Aírton Raul de Andrade, o "Pinga".

Nascido na Florianópolis da década de 1950, mais precisamente em 1953, Pinga marcou época no Figueirense Futebol Clube.

Filho do seu Raul, que cuidava do gramado do estádio Orlando Scarpelli, Pinga deixou seu nome na história do alvinegro do Estreito

na década de 1970, um período lembrado com muita saudade por aqueles que viveram essa época.

Foi na década de 1970 que a ponte Colombo Salles foi inaugurada, dando um significativo fôlego para a tradicional ponte Hercílio Luz, o que transformaria o trânsito da cidade.

Nessa década, muitas famílias rumavam para as praias do norte da ilha, como Jurerê e Canasvieiras, ou optavam pelas praias do continente, como a praia da Saudade e a de Itaguaçú, fosse numa Rural Wilys ou de bicicleta, ou a pé.

No apagar das luzes de uma década tão marcante, o Figueirense iniciava a substituição das suas arquibancadas metálicas por arquibancadas de concreto em dezembro de 1979, mesmo ano em que Santa Catarina colocava cinco clubes na série A do campeonato brasileiro.

Em meio a uma época que denunciava o que viria a ser Florianópolis, uma cidade diversa e bem maior do que as pessoas da época poderiam imaginar, o Figueirense ganhava dois catarinenses (1972 e 1974) e fazia suas primeiras participações no campeonato brasileiro.

Aírton Raul de Andrade marcou sua trajetória no Figueirense com 483 jogos e dois títulos estaduais. Atuou no clube no momento em que o futebol de Santa Catarina tentava dar as caras no cenário nacional e teve muita importância para que o alvinegro da capital pudesse apresentar a sua torcida uma história tão linda e vitoriosa.

O cenário atual não é dos melhores para os torcedores do Figueirense mas a salvação pode estar ancorada também na relação da torcida com a história do clube, afinal, vive de passado quem tem.

Um grande abraço à todos.

 

Roberto Carlos Silva e Silva – Bacharel e Licenciado em História

Florianópolis – SC  23/03/2021



                                                     Foto Acervo Placar/1975
                                                    


22 de março de 2021


 SOCIEDADE CARNAVALESCA TENENTES DO DIABO - CARNAVAL DE 1957

Neste final de semana eu e minha esposa estávamos manuseando uns documentos antigos do meu sogro o Senhor Elpídio de Souza Lopes e encontramos um raro documento da tradicional Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo, sociedade essa que eu quando morava no bairro Prainha em Florianópolis, passava em frente todos os dias na década de 1970 e 1980.

Nesta e em outras sociedades carnavalescas que existiam na Ilha , cidade de Florianópolis, eram feitos os Carros de Mutação de acordo com o tema apresentado.

Neste documento que eu encontrei tem todos os nomes da Diretoria de 1957, bem como de todos os funcionários e apoiadores que ajudavam a fazer esses carros que por sinal eram belíssimos. No carnaval de 1957 a Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo homenageou o Governador Jorge Lacerda, aonde diversos carros tem seus nomes e especificações apresentados.

Devo retornar ao assunto assim que reunir novos materiais em pesquisa.

Grande abraço a todos.

Paulo Coelho  - Administrador/Bacharel e Licenciado em História.




Florianópolis - 22 de março de 2021. 

 


 

19 de março de 2021

 


OS ENGENHOS DE FARINHA DE MANDIOCA DA ILHA DE SANTA CATARINA – Etnografia Catarinense

Dia 12 de março de 2021, terminei a leitura do meu 6º livro do ano, de Nereu do Vale Pereira

 OS ENGENHOS DE FARINHA DE MANDIOCA DA ILHA DE SANTA CATARINA – Etnografia Catarinense

/ Nereu do Vale Pereira. Florianópolis : Fundação Cultural Açorianista, 1993.  208p: il.

Este livro tem como abordagem, um levantamento etnográfico sobre a cultura açoriana estabelecida na Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis após a vinda de Imigrantes Açorianos, a partir de 1748, trazendo o uso dos engenhos que aqui foram adaptados, para a fabricação da farinha de mandioca na ilha.

Falar sobre os Engenhos de farinha para mim é relembrar histórias contadas no âmbito da minha família mesmo nós não temos nascidos na região de Florianópolis e sim do médio Vale do Itajaí. Lembro perfeitamente de ouvir minha mãe e meu avó falarem dos trabalhos que eles prestavam em um Engenho de farinha e possivelmente de cana também (este com a finalidade de fazer açúcar grosso e melado), de um tio da minha mãe que tinha um pouco mais de recursos.

O meu avô materno uma pessoa de quase dois metros de altura nos contava que o cunhado sempre pagava a mais para ele porque ele “rendia” bem mais que os outros que trabalhavam a “jornal” ou seja, por jornada, já a minha mãe contava que quando criança ajudava no engenho do tio e depois “ganhava” umas bonequinhas de açúcar (não sei exatamente o formato e a quantidade), mas a lembrança era bem real e passada de forma feliz.

Voltando ao livro de Nereu do Vale Pereira, sobre os Engenhos de Farinha de Mandioca na Ilha de Santa Catarina, podemos ver que na segunda metade do século XVIII, logo depois que a primeira leva de casais açorianos aqui chegaram por meio de um projeto de colonização da Coroa Portuguesa, até para livrar os habitantes das Ilhas dos Açores da fome extrema que assolava a região.

Os engenhos que lá eram utilizados com outras finalidades devido a mandioca não ser um produto do Continente Europeu, logo foram adaptados ao ambiente de produção e recursos disponíveis locais na ilha. Adaptando os engenhos e com uma grande produção de mandioca na ilha logo a farinha de mandioca se torna o principal produto de exportação não somente da ilha bem como de toda a Província de Santa Catarina durante a o final do século XVIII e por quase todo o século XIX. Somente Desterro chegou a ter aproximadamente oitocentos engenhos de farinha de mandioca.

Por ser a farinha de mandioca um produto de fácil manufatura uma grande quantidade de residências do interior da ilha, tinham um engenho junto a casa de moradia, tendo em vista que esta unidade de produção não ocupava muito espaço e a mão de obra era quase que totalmente familiar. Quando do período da farinhada ou de fazer farinha se usava também a mão de obra de vizinhos e parentes que raramente recebiam em dinheiro por esse serviço e sim em troca de dia ou mesmo em parte da produção.

Por mais interessante que venha a ser a produção de um engenho de farinha na ilha poderia ter peculiaridades diferentes entre si em localidades diversas, tendo em vista que o modo de fazer o engenho estava na cabeça do mestre que seria responsável pela sua execução, bem como os recursos disponíveis como tipo de madeira e espaço disponível. Não existia uma planta única que fosse utilizada para uso em escala até porque a maioria dos mestres que os construíam eram praticamente pessoas analfabetas, mas com grande capacidade de execução.

Por questões de relevo quanto aos rios e regatos um tipo de engenho muito conhecido para o interior do estado não teve aceitação localmente, que é o engenho movido a roda d´agua, dando lugar aos engenhos movidos a boi. O boi como elemento essencial de tração era responsável por movimentar os equipamentos que se encaixavam um ao outro por intrincados mecanismos totalmente feitos a mão e em madeira.

Domar e treinar o boi para uso na canga era uma atividade que levava vários meses, pois o animal, tinha que estar completamente adaptado ao ambiente e com os equipamentos corretos para o árduo e contínuo trabalho no engenho e se alguma coisa fugisse do controle poderia acabar destruindo todo o equipamento.

Produzir farinha de mandioca não era uma tarefa exclusiva da Ilha de Santa Catarina, tendo em vista que em várias regiões da Província e também do país tinham produção, porém em escala muito menor e ainda não com a mesma qualidade. Na verdade, a produção de farinha já era realizada a muito tempo pelos primeiros habitantes dessa terra, ou seja, os nossos indígenas, claro que em um processo muito rudimentar para atender as suas necessidades básicas de alimentação.

Ao decorrer do livro de Nereu do Vale Pereira, são apresentados desenhos, plantas e escalas de como eram produzidos os engenhos bem como suas peças e suas diversas funcionalidades eram produzidos. Também muitas fotografias mostrando os diversos engenhos ainda existentes quando da pesquisa realizada desde a década de sessenta ao final da década de oitenta do século passado e também toda a sociabilidade que a Farinhada ou fazer farinha permitiam nos frios dias de inverno.

A atividade de produção de farinha de mandioca conforme conhecemos, começou o seu ciclo final a partir de 1963, quando começam a chegar os primeiros engenhos elétricos que passam a produzir de forma praticamente industrial e começam a usar o nome de Fecularias. Com a mecanização praticamente se encerra a atividade artesanal, familiar e de grande congregação social nas localidades da atual Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina.

Acredito que de uma forma ou de outra, todos nós temos em um passado não muito distante, através dos nossos ancestrais um forte convívio com a farinha de mandioca como base de alimentação ou mesmo de comércio, conforme já citado no texto devido este produto ser o principal item de exportação da Província de Santa Catarina.

A finalidade deste texto é fazer um breve apanhado sobre o tema dos Engenhos de Farinha na Ilha de Santa Catarina, e recomendo aos que gostem e tenham interesse sobre o assunto, quer seja por interesse histórico e comercial ou mesmo de histórias familiares conforme foi o meu caso, que leiam o livro que acabo de descrever.

Grande abraços à todos.

 

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     19/03/2021.

7 de março de 2021

 


O DESMATAMENTO DA ILHA DE SANTA CATARINA DE 1500 AOS DIAS ATUAIS

Dia 23de fevereiro de 2021, terminei a leitura do meu 5º livro do ano, de Mariléia Martins Leal Caruso

Caruso, Mariléia Martins Leal

O desmatamento da Ilha de Santa Catarina de 1500 aos dias atuais / Mariléia Martins Leal Caruso. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1990. 160p.

Este livro tem como abordagem, um levantamento histórico sobre o processo de ocupação e também as práticas relacionadas a cobertura vegetal da Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis, que procura apresentar dados desde 1500 aos dias atuais.

Antes de começar a falar especificamente sobre o livro citado acima vou fazer um comentário de caráter pessoal, tendo em vista, que vai ao encontro com o teor do livro.

No ano de 1982 eu Paulo Coelho um jovem de 18 anos contra a minha vontade fui forçado a “servir” ao Exército Brasileiro como recruta do SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO uma coisa que eu abomino até os dias de hoje. Mas deixando para trás esse infortúnio da minha vida vou entrar no texto sobre o livro em questão.

Conforme citado acima como recruta do Exército fui participar de um acampamento obrigatório (mesmo eu servindo em uma unidade administrativa) e esse acampamento, foi em um campo hoje desativado no Campeche no Leste da Ilha de Santa Catarina em um lugar magnífico que nunca deveria ter sido usado para essa atividade. Fizemos uma incursão por uma mata completamente fechada com árvores gigantes e rios também na localidade dos morros do Rio Tavares. (até hoje tenho uma cicatriz na perna direita devido um pequeno “acidente” lá ocorrido.

Sempre me intrigou a vegetação exuberante da Ilha de Santa Catarina atual Florianópolis, acreditando se tratar de vegetação primária, ou seja, que nunca foi desmatada. Por volta de uns 15 anos atrás eu estava na casa de um amigo no Rio Tavares com uma boa vista para esses morros que acabei de falar e ao ver uma mata muito bem formada perguntei, Pedro essa mata será que é de primeira geração e ele me disse claro que não isso em algum momento já foi tudo desmatado.

Fiquei comigo pensando como que já foi tudo desmatando, andei pelo Sertão do Ribeirão, do Peri do Saquinho, da Lagoinha do Leste e vários outros lugares da Ilha e nunca me pareceu que isso pudesse ter sido já derrubado em algum tempo?

Hoje formado em História pela FAED/UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina, tenho direcionado as minhas leituras para o conhecimento da nossa história política, comercial e de colonização da Ilha de Santa Catariana atual Cidade de Florianópolis capital do Estado de Santa Catarina.

Já em várias leituras anteriores o fator do desmatamento e o fornecimento de lenha e madeira para a exportação a partir de Desterro tem se tornado muito comum e começou a clarear meus conhecimentos quanto a cobertura florestal dessa ilha.

No livro o Desmatamento na Ilha de Santa Catarina a autora nos traz informações muito precisas sobre cada Bioma existente na nossa Ilha e o quanto foi destruído principalmente logo após a chegada dos colonizadores açorianos que tinham como matéria prima para praticamente todas as suas produções a lenha e também a madeira.

Segundo relatos aqui já por volta de do século XVIII, ou seja, no final dos anos 1700 já era visível que os morros haviam sido desmatados, apresentando cicatrizes que denunciavam essa atividade predatória. Somente para conhecimento por volta do século XIX tinham algo em torno de oitocentos engenhos de farinha e mais de cem engenhos ou alambiques de cachaça, bem como inúmeras Caieiras que transformavam conchas de Berbigão e Mariscos em cal para a construção de casas e também vários curtumes de peles que também usavam muita lenha.

Desde o início do século XVI, ou seja, quando o Brasil foi descoberto inúmeros navegadores por aqui passaram e todos falavam da exuberância das matas da Ilha que inclusive quando da vinda dos Açorianos foram citadas como local ideal para esconderijo de invasores, devido a densidade fechada da Floresta. Hoje fica difícil de acreditar que aqui já tivemos exemplares típicos da Mata Atlântica como Canela, Peroba e outras árvores com algo em torno de 40 metros de altura.

Centenas ou milhares de navios que por aqui passaram levaram a vegetação de nossas florestas e mangues como lenha ou madeiras de exportação praticamente de graça, quando isso não era mesmo de graça inclusive por determinação dos governos locais para atender aos pedidos dos capitães de barcos que aqui atracavam.

Comércio muito pouco e as nossas matas viravam bens de troca por qualquer coisa que pudesse ter alguma utilidade para os seus moradores, os valores pagos pelos comandantes das embarcações por milheiro de “achas” de lenha, ou pedaços de praticamente um metro cada, era irrisório.  Com isso os colonizadores que vieram para desenvolver a nossa cidade eram tão pobres que cada vez mais tinha que entrar floresta e mangues a dentro ou subir morros para conseguir lenha e madeira para comercializar com os “de fora’.

Ao falar dos desmatamentos a autora deixa clara que a pressão sobre os nossos Mangues um bioma muito frágil era enorme tendo em vista que por estarem na desembocadura de rios e serem servidos por inúmeros canais os tornavam a forma mais fácil de conseguir lenha para uso em seus engenhos e também para comercializar. O detalhe que ao destruir o Mangue automaticamente estava destruindo também toda a complexa cadeia de vida que esses verdadeiros santuários, envolvem.

Todo um apanhado sobre as tentativas de contenção ao desmatamento devido a urbanização e o crescimento da cidade foi questionado e também uns ridículos processos de reflorestamento com Pinus Eliotis e Eucalipto, espécies invasoras que são chamadas de “deserto verde’ o que não permite que nenhuma espécie sobrevida sob suas sombras  quer seja de fauna e flora e cria um solo totalmente impermeável causando diversos problemas como falta de água nos lençóis freáticos contribuindo para a mudança no ciclo das chuvas em regiões da ilha.

Vou encerrando por aqui o comentário sobre esse livro que muito me emocionou ao fazer a sua leitura, tentando imaginar o quanto de belo e diversificado deve ter sido as florestas e todos os biomas da Ilha de Santa Catarina antes de sua quase total destruição.

Sugiro à todos os que puderem ter acesso a este livro e bem como os demais a esse assunto que leiam para entender o porquê é importante hoje no início da terceira década do século XXI, preservar os nosso recursos naturais , como florestas, dunas, mangues, lagoas e nascentes de rios que nos cercam.

Grande abraços à todos.

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     07/032021.

28 de fevereiro de 2021

A HISTÓRIA NATURAL DA ILHA DE SANTA CATARINA

 

HISTÓRIA NATURAL DA ILHA DE SANTA CATARINA – O CÓDICE DE ANTONIO JOSÉ DE FREITAS NORONHA

Dia 12 de fevereiro de 2021, terminei a leitura do meu 4º livro do ano, de Marli Cristina Scomazzon/Jeff Franco/Daniel de Barcelos Falkenberg

 História natural da Ilha de Santa Catarina – O códice de Antonio José de Freitas Noronha/ Marli Cristina Scomazzon/Jeff Franco/Daniel de Barcelos Falkenberg. Florianópolis : Insular, 2017.  112p: il.

Este livro tem como abordagem, um levantamento gráfico sobre a flora existente na Ilha de Santa Catarina, cidade de Desterro, atual Florianópolis realizado em 1803.

As belezas naturais da Ilha de Santa Catarina, com sua exuberância, bem como a sua diversidade, já eram conhecidas desde o século XVI quando por aqui passaram os primeiros navegadores que circundaram o globo, no período das circunavegações organizadas pelas grandes potências desse período, que viam por essas rotas grandes possibilidades de ganho e conquistas. (no texto em questão não vou fazer relação aos nomes destes navegadores todos)

Quando em 1751 o menino José de Freitas Noronha, vindo ou fugindo da fome na região  da Ilha da Madeira em Portugal, talvez ele jamais pudesse imaginar  que além de se tornar oficial militar em Desterro, capital de Província de Santa Catariana, também se tornaria um personagem da História Natural desta Ilha?

Mais de cinquenta anos depois de ter chegado em Desterro já com a patente de Capitão, José de Freitas de Noronha recebe do então Governador da Província de Santa Catarina Coronel Joaquim Xavier Curado uma tarefa ou missão para os militares não muito peculiar as suas funções, que seria de mapear e descrever ou inventariar a espécies de plantas naturais da Ilha de Santa Catarina.

No ano de 1803 o projeto de mapear as espécies de plantas principalmente frutíferas da Ilha de Santa Catarina se desenvolve e é produzido um material com desenhos e especificações conhecidas até o momento da produção, de diversas plantas tais como: Araçá, Angá (Ingá), Banana, Coco Butiá, Indaiá, Tucum, Figos, Fruta do Conde, Gabiroba, Goiabas, Jaboticaba, Maracujá, Orapronóbis, Pitangas entre outras.

Este trabalho foi realizado em 38 pranchas de desenhos em aquarelas que representavam as espécies por ele retratadas, claro eu algumas divergências surgiram depois de ser descoberto esse material de grande valor histórico para a Botânica da Ilha de Santa Catarina, que hoje conhecemos como Florianópolis.

O principal detalhe desse projeto é que ele ficou esquecido por mais de duzentos anos ou, seja por mais de dois séculos ninguém deve a oportunidade de acessar e fazer as suas considerações sobre a qualidade e divergência de sua produção. Foi um “achado” e tanto encontrar essas aquarelas totalmente preservadas conforme no livro são apresentadas.

Muitas das considerações feitas por José de Freitas Noronha realizadas no início do século XIX e usando o linguajar do Português de Portugal, bem como o do gentílico local, sobre a forma, uso e tamanho das plantas, foram comentados por Daniel de Barcelos Falkenberg, especialista em Botânica.

Mesmo com muitas divergências e também contradições, depois de classificadas e revistas de acordo com as atuais classificações de espécies da flora da Ilha e também do Brasil, o trabalho do autor mesmo que duzentos anos depois é de grande valor histórico não somente no campo da Biologia e Botânica como também da história da Ilha de Santa Catarina.

Recomendo à todos que possam ter acesso a esse valioso documento histórico de imagens das plantas que são lindas, mesmo que produzidas por um amador de forma rudimentar e que por ironia do destino ficaram esquecidas por mais de duzentos anos e que por um milagre inexplicavelmente, foram preservadas, com toda a sua exuberância e cores e detalhes. (inclusive o meu Butiá) que hoje tanto tenho estudado sobre ele e a mais de duzentos anos já foi motivo de representação nesse importante documento histórico.

Grande abraços à todos.

Paulo Coelho – Administrador/Bacharel e Licenciado em História.

 Florianópolis – SC     28/02/2021.